segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Joaquim e a Madalena

Um dia destes o Joaquim, nobre operário da construção civil, seguia o seu percurso normal para casa, era de noite, e tinha abandonado o local de construção de um prédio que já tinha toda a estrutura de Catorze andares montada, apesar de ainda só possuir cimento e aço, portanto o esqueleto do produto final, iluminado pelos holofotes de luz azul-esbranquiçada e acompanhado pelos guindastes que nunca ninguém sabe muito bem como aparecem, coisas enormes com vários tamanhos, imponentes na paisagem de qualquer centro urbano. Adiante. Chovia e fazia bastante vento, daquelas noites frias e demasiado aborrecidas para que o Joaquim se importasse com mais do que o passeio, ainda para mais a ainda mais aborrecida calçada portuguesa, pedra solta ali, buraco acolá, uma poça, salto e já está, calças ensopadas, sapatos inundados como barcos afundados num oceano de água citadina, cinzenta escura como o breu do céu da noite!

Estava perto de casa, era só subir mais Trezentos metros de uma rua com uma inclinação desumana

"Ah grandes construções urbanas, operários ali, pois, operário só precisa de casa para dormir, não precisa de uma casa plana, paredes secas e espaços amplos, e de que me queixo, a culpa é minha."

"É?"

"Quem está aí?"

"Quem pergunta aí?"


"Joaquim de Almeida e Trocos da Beira, operário de profissão, homem da monção, como pode muito bem ver! Mas eu é que não o vejo/a"

"Ora pois, é natural, talvez se olhasse para além das suas botas alagadas pode-se-me ver"


"Para onde devo olhar então? De onde vem a sua voz gentil e desafogada neste dia bastante afogado?"

"Bem logicamente não vem do passeio, tente olhar por ventura para os seus lados."


"Não vejo ninguém, onde está?"

"Talvez eu não seja alguém, ou talvez você, Joaquim, é que não é ninguém."


"É... Talvez não seja ninguém, mas aqui estou eu, e você aqui não está. Vá gozar outro!"

"Ora, não o estou a gozar, você apenas disse que não viu ninguém, e para você, alguém, é necessariamente algo que se assemelhe a si."


"Evidentemente, você então não é semelhante a mim, no entanto fala como eu, alguém você é."

"Diga-me Joaquim, porque não falam os cães?"


"Pois meu caro/a, eles ladram."

"E já ouviu alguma flor ladrar, miar, mugir, guinchar ou apenas as viu contemplar o tempo, como se dele não se apercebessem?"


"Pois claro que não, as plantas são só...plantas, não são animais, não necessitam de comunicar."

"Pois claro que... Porque pensas tu Joaquim, estar certo à cerca disso?"


"Porque sim. Não me tentes enganar, estás prai escondido debaixo de alguma pedra da calçada e a gozar com a minha cara já bem molhada, o meu consolo é que deves 'tar tão molhado como eu!"

"Dá-te prazer, Joaquim, que alguém que possivelmente te engana, sofra pelo menos em quantidade igual à tua? Já agora, não estou molhada, e estou sim debaixo de uma pedra, mas essa pedra é apenas um desnível no muro, e isso abriga-me da forte tempestade"


"...Aqui apenas se encontra uma Madalena... Queres que eu acredite que tu és esta Madalena debaixo desta pedra, num muro, numa noite de chuva e vento? Devo estar a ficar doente."

"Não meu caro, se te aproximares poderei comprovar-te."


"Como?"

"Segredarei ao teu ouvido, certamente não ouves um sussurro de alguém que não esteja
próximo, isso comprovará que a minha posição é esta que aqui vês."


"É apenas uma armadilha, bem vou-me embora."


"Joaquim, não queres ouvir um segredo de uma pequena e frágil Madalena, que desde que brotou aqui ficou?"


"E o que ganho com isso?"


"Bem nada de especial, mas talvez pudesses passar a ser Joaquim de Almeida e Trocos da Beira, contador de histórias de plantas, em vez de operário e homem da monção."



"...Que ridículo"


"Talvez, mas não foste tu que disseste que eras o culpado de não passares deste bairro desnivelado?"



"E agora serei o culpado de cair numa armadilha tão óbvia como esta, mas então vamos, conta-me lá um segredo..."


Alguns anos depois, Joaquim chegou a casa, depois de um dia muito longo e exaustivo. Entrou pela porta principal, chamou o elevador e subiu até ao Décimo Quarto andar, abriu a porta e entrou, tirou o seu casaco, descalçou os sapatos e foi à sua ampla varanda regar as plantas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Era uma vez.

Bem, era uma vez uma história sobre caracóis e ingleses.

Um dia li no jornal que ia haver uma corrida de caracóis em Inglaterra, é verdade, uma coisa aborrecidíssima como uma corrida de caracóis, mas claro que fui a correr à minha horta contar aos meus queridos caracóis. Será que eles queriam concorrer numa corrida de caracóis? Eu seria o treinador claro!

"A Inglaterra, a pé????!!!!!!!... Nah..." diz-me um dos caracóis. Fiquei atónito, é óbvio que iríamos de avião. Mas ainda assim outro diz-me "Epá isso da corrida fica para o ano...", pois claro fiquei chateado e fui-me embora.

Uns dias depois fui à horta tirar uma alface, para uma salada, fui sem intenção de falar aos habitantes viscosos dos bolbos, mas para minha surpresa tinham desaparecido! Saltou um grilo à minha frente que me assustou e me disse que os caracóis tinham-se ido embora que nem setas, direitos a Inglaterra, estava a galinha Pedrês com eles, aquela que diz, "Eu sou a galinha Pedrês e se vos apanho, ainda vos faço em três". Sendo assim já percebi, quando a vêm até voam.

E não é que os caracóis ganharam a corrida!? AH! Bendita couve portuguesa!

Mas claro, que o palerma do Inglês desclassificou os caracóis portugueses, afirmando ele que eles não estavam inscritos e que ainda por cima traziam uma galinha com eles! Invejas digo eu!


Moral da história? Vão perguntar ao António Torrado, pois foi ele que a escreveu, eu apenas me limito a ter de a contar numa aula de Expressão Dramática, acho que ainda vou comer muita couve até lá...

Não foi o melhor regresso ao Blog eu sei, mas enfim melhores dias virão.

Victória victória, acabou-se a história (...?)

domingo, 20 de setembro de 2009

Let's go back to the stars - Part II

Hey where's that world we imagined??
What the hell happened to the dream??
Is all we're left with, a dim twist of irony??
So all there is to is to become star dust
Put on these rocket shoes, and fly with me if you will
Fly with me to those endless stars
Like Dindi and Firey-Tail
And here have my compass so you can find your way
Our place,
Let us find our place in the bilions of cosmic atomic particles
And watch the cycles of renewal
Just so i can prove you wrong over and over again
So i can tell you once again
See, time does not heal
People do not learn
I am the same
You are the same
They're the same
We're always the same
And the turns of the wheel shall be the same
Over and over and over again
To all of our long eternity
Singing it right into your ear:

But it was only fantasy.
The wall was too high,
As you can see.
No matter how he tried,
He could not break free.
And the worms ate into his brain.
(Hey You-Pink Floyd)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nine Eleven

A data que prova que por muito sofisticado que o Homem se tenha tornado, ainda consegue ser arrastado para conflitos inúteis. E mais não digo sobre o assunto.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Capítulo Final


Mãos húmida e arrepios na espinha, dez mg de um medicamento calmante que teima em nada fazer.

Tonturas e vertigens, espera, estás em solo e não numa falésia sobre a costa alentejana.
Espera pelo momento certo para chorares, que agora não o é. O teu rosto suave está rígido e mostra ansiedade, não, o mundo não te vai aceitar assim, mostra o teu sorriso de sempre, aquele
que multidões vai conquistar. Não, esquece essa pastilha que mascas com demasiada força, arranja em ti a força para superar este momento, afasta o cabelo louro e liso que usas nestas ocasiões da cara. Esquece as câmaras e pensa na causa que defendeste e que até aqui te trouxe. Esquece os tremores das pernas, o frio na barriga, essas borboletas incessantes, lembra-te da calma do mar na sua eterna viagem terrestre, ou talvez necessites de uma lembrança mais brusca e violenta desse mesmo mar para apaziguar o teu espírito inseguro. Esquece que estás vestida à gala, que o teu vestido é vermelho e que os teus sapatos são caros demais para o que vais dizer.

Descruza
as pernas e enfrenta essa multidão, queres que te empurre ou quê ? Não estou ai, nem perto se quer, apenas te observo de longe, muito longe. Avança lá, estás a espera do quê. Pronto já estás em frente ao mundo, agora resta saber uma coisa, será o teu único defeito, aquela perturbação emocional, aquela falta de coragem que te impedirá de conquistar o mundo? Ou elevar-te-ás, ultrapassando os teus limites, e levarás o mundo a rescrever a história? A minha acaba aqui com o teu discurso, que dirás, como o dirás.

Vou esperar, entretanto vou calmamente abrir a chaveta de conversação, com dois pontos, um parágrafo e um conjunto de aspas. Fico à espera, até este ponto sei que a minha história vai bater certo, sabendo que és capaz de te tornares numa das pessoas mais influentes do século XXI, sabendo que independentemente das cores que vistas serás influente e preponderante, sei isto pela admiração que em tempos nutri por ti, o desejo e o amor que me fizeram observar cada gesto sublime e/ou catastrófico, sei aquilo que serás capaz se largares o teu único defeito, aquele que nos desuniu, a tua falta de coragem, e espero que te encontre um dia como aliada e não inimiga, pois custar-me-á destruir-te a partir da tua fraqueza.

... e então disse:
"...

A Observar a População VII

Crise, palavra-chave para a tentação de usurpar a verdade da frente dos olhos, cai uma bandeira, haste-a-se outra, para quê ? Terão se esquecido que as bandeiras representam apenas defeitos e nunca virtudes? Para quê azul e branco, vermelho/amarelo/verde, ou qualquer outra cor? Porque não perguntar a um economicista o que fazer em vez de perderem tempo a serem presos por cores que apenas representam ódio e discriminação, orgulho exacerbado e tentações desmedidas? É muito bonito dizer que se quer revitalizar o país, a agricultura, as pescas e banir vícios. Mas para quê ? Mais uma família a aproveitar-se dum povo já pobre. Não é necessário uma bandeira azul e branca, é sim necessário investimento na educação, intelectualidade e em todas as áreas que formem pessoas, é sim preciso escutar o próximo seja ele de que cor ou nacionalidade for, vivemos na globalização meus amigos. Esqueceram as revolução que nos levaram a ter escolhas, agora que estamos tão perto ao fim de 36 anos de ter uma terceira opção levantam uma bandeira de escolha única e exemplificam países estrangeiros.

Para quê ? A população tem a mesma mentalidade quer seja com um presidente ou com um Rei, isso não vai mudar, o país não vai mudar com orgulho fétido. Os países estrangeiros que servem de exemplo são uma boa piada, não sabem que foi o PSD na Suécia e não o Rei? Não sabem que a rainha de Inglaterra nada faz, são apenas figuras imunes a qualquer crime que possam perpetuar. Não precisamos de ícones inúteis, precisamos sim é de ideias sólidas e válidas, opções e uma população ciente.

O que observo são apenas meninos/as já de elite a hastearem bandeiras.

Ah e já agora, quem se lembrou do Darth Vader deveria ter umas aulas de estética.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma carta de um passado


Esta carta que te dirijo lembra um local que nos foi a ambos familiar, quente, mas igualmente frio e irritante.

Esse lugar, chegavas lá tu e já lá estava eu há Quatro anos, saias de lá tu completando um ciclo de Três anos e acabava eu o meu de Sete. Quando lá chegaste já eu conhecia todos os corredores, salas e recantos escondidos, sabia quem fazia o que fazia e quando o fazia e onde o fazia, reconhecia o cheiro a mofo de todas as partículas de pó de todos os andares de todos os edifícios, quando tu lá chegaste já eu estaria na crise de meia idade, em jeito de comparação, e tu acabavas de nascer para um mundo com as suas regras próprias, que não diferiam assim tanto de outros tantos mundos semelhantes. Tal como descobriste facilmente que a maior influência naquele local era o teu modo de ser, as tuas roupas e o teu discurso, nada que fosse exclusivo ou novo na tua vida. Que tal um cheirinho de memórias? Talvez não seja adequado, talvez até sejam boas mas causem o mesmo ardor que as piores.

Talvez então recordar-te apenas uma memória algo nostálgica que me aconteceu no final de o Sexto ano dentro das muralhas daquele forte, final de um ano talvez que eu queira esquecer e não consiga, pois existe um certo peso para cada memória, e o pesa desta arrasta-me até ao fundo do oceano. Certa manhã no então final do Sexto ano, desloquei-me no sentido contrário à sala de aula, depois de te ter deixado lá, e encontrei então todo o conjunto de pessoas com quem partilhávamos uma grande parte do dia, a fazerem a sua deslocação natural para a sala, mas numa ordem pouco usual, sendo que passaram por mim, todos e apenas à tua excepção em pares. Sim pares, todos eles formavam pares e passaram por mim ao longo de um corredor, quando cheguei ao fim deste, passou por mim o par final, digamos que foi um evento esmagador e singelo, digo-te isto apenas porque achei na altura fantástica a harmonia não intencional que os nossos então colegas me proporcionaram.

Sabes perfeitamente as situações que vivi, as que viste e as que não viste, mas o que não sabes é que as cores daquele nosso mundo naquela altura já há muito tinham deixado de existir, já nem a preto branco eu via aquele local, não tinha cores, era desprovido de emoções novas e de talentos diferentes.

Foi tudo demasiado parecido durante Sete anos, ou melhor, tudo de bom foi repetido demasiadas vezes ao longo desses Sete anos, desse local não guardo qualquer sentimento de saudade. Sinto sim uma saudade de certas e muito determinadas pessoas, numa lista muito restrita.

Esta carta, este texto, é especialmente para ti pois viveste comigo esse mundo.

Layout

Se estão a ler este post, é porque já repararam no novo layout do blog.

Necessitava de mais espaço horizontal e umas modificações para o tornarem mais simples. Continua a ser texto à esquerda e extras à direita mas parece-me tudo muito mais limpo. É certo que um texto parece maior na horizontal, pelo simples facto que em comparação a um texto vertical, podemos ver a maioria desse mesmo texto na mesma página, enquanto que na vertical só vemos um parte até fazer-mos o scroll down, garanto-vos que é tudo psicológico, hehe.

Em relação a esses mesmos extras deverei tirar o photolog Flickr pois já não consigo aceder ao mesmo há cerca de Dois meses, o que se explica pela perda da password e a não resposta da Yahoo aos meus emails. Terei de recorrer a outro tipo de blog fotográfico para expor trabalhos.

Uma outra referência é que tenho tido uma certa atenção a uma noticia que saiu no ElPaís, que alertou para o facto que em Espanha morre Um ciclista em cada Quatro dias (média), e porque ao mesmo tempo o meu irmão mais novo se recusa usar um capacete, por motivos de provável estética, adolescentes enfim. Por exemplo, ontem na velha volta a Portugal em bicicleta caíram Cinco ou Seis ciclistas, se os profissionais caem porque se acha um adolescente capaz de manter o equilíbrio Cem por cento do tempo? Portanto, usem capacete se faz favor.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Requiem


Viajava distraído no comboio das sete da manhã, à minha direita o mar, azul baço devido à fraca iluminação, à esquerda a sequência dos subúrbios a começar com os seus distúrbios matinais, a força impelativa da inércia deixava-me descuidado de um fenómeno pouco comum.

Avançávamos para o centro da cidade à medida que o tempo passava o sol se levantava, mas, estava frio, cada vez mais frio, irritantemente frio, como o fio do rio a atravessar a espinha dorsal e a conquistar o pedestal do circulo polar árctico e antárctico.

Do pressuposto que o avançar das horas aqueceria o ambiente fui apanhado desprevenido pela corrente cada vez mais fria que me desfazia, o comboio certamente tinha levantado voo após a terceira paragem, de certo já não estaria no solo a conduzir-nos ao nosso monótono destino, estava sim a voar até Apolo, e atravessava a troposfera a uma velocidade pouco usual, comprovava não a inclinação da carruagem, não essa nem a sentia com tanto frio, comprovava o termómetro do comboio que espreitei, menos quinze graus centígrados, Porquê? Mas mais importante, Como? Mas ninguém diz nada, o silêncio há muito que nos havia congelou as cordas vocais, precioso e vulnerável instrumento humano, menos dezassete graus, não vejo bem e ganha tudo um contorno azulado, brilhante, não baço como a interior cor do mar aborrecido. Frio, frio, frio, cada vez mais gelado, menos dezanove, não entendo o que se passa, onde estou, ainda não me levantei de certo! O que estava eu a fazer aqui de qualquer maneira? Onde queria ir quando não tinha nada para fazer hoje? Não, não posso ter acordado, é impossível, alguém que me acorde, por favor que isto é insuportável, menos vinte e um graus, acho que o meu sangue já não corre nas veias, parece-me que vamos chegar à estratosfera, a esta velocidade poderíamos estar bem longe deste inferno gelado, sítio terrível, menos vinte e três graus, mais frio, ainda mais como se fosse possível.

Frio, Como um rio de inverno. Menos Vinte e Cinco Graus Centígrados, Menos Cinquenta e Cinco anos vividos do planeado, Trezentos e Cinquenta Mil Milhões de palavras por dizer, E acabo neste icebergue durante o verão, O que aconteceu mesmo?

De repente sinto calor, calor verdadeiro? Ou o frio já é tanto que me queima o corpo? Não, é mesmo calor, calor humano, estou confuso a minha visão entorpecida, acho que não tenho os pés no chão, mas estou a ser deslocado, por alguém, o som de que há algo de errado bate-me constantemente para que acorde e perceba o que se passa, mas depois de tanto frio só quero abraçar este momento de alegria invisível, oh, deixa-me em paz, deixa-me dormir, não me acertes na cabeça com esses sons horríveis. Já chega, não me queres deixar então vou ver o que queres, quando não os vences junta-te a eles? Fiz um esforço invulgar para desentorpecer a visão, e já está! Vermelho, cinzento, mas principalmente vermelho, vejo vermelho por todo o lado, vejo os meus braços estendidos sobre as costas de alguém, devo estar aos seus ombros, vejo um rasto vermelho por de baixo dos passos serenos mas convictos do meu portador, algo de terrível se passou, o barulho irritante que ouvi são na realidade gritos horríveis de socorro, a carruagem perdeu o seu gosto monótono e afunilado, agora está completamente imprevisível, de várias tonalidades em que se destaca o vermelho a brilhar sobre os estilhaços de vidro do compartimento, o odor transmite morte a todos os cantos, agora já não quero aquele calor, que me está a tirar o folgo, que torna difícil respirar em condições humanas, daquelas por exemplo de um campo de rosas, daquelas condições que esta carruagem já não apresenta.

Mudei de mãos, ou braços, como queiram, vi de relance a cara daquele que me salvou, ele estava vestido devidamente para aquela cerimónia de morte, perfeito para aquele Requiem, de vermelho saltou lá para dentro para salvar outro, digno dos mais aclamados heróis.

sábado, 11 de julho de 2009

Falha da democracia

A procura de um sistema totalitário é a procura de ditadura.

Quem opta por estas "soluções", opta por não puder optar, opta apenas para obedecer, para não ter de pensar, seguindo apenas as ordens de um líder de estado com discursos populistas, opta por uma escravidão física e intelectual.

A falha da democracia é dar oportunidade a sistemas não democráticos.

sábado, 20 de junho de 2009

A Observar a População VI


O sol está-se a pôr no horizonte marítimo, iluminando a paisagem com um amarelo torrado, que é intensificado quando toca na nossa feira popular com todas as suas luzes psicadélicas. O João pega na mão da Ana, leva-a a conhecer o que eles já conhecem, a banca das farturas, a casa assombrada, o palco cheio de adolescentes no auge das suas hormonas, ficam lá um pouco, nada como música estridente para animar uma tarde quente e aquecer os ânimos da noite que aí vem.

Após o ultimo solo completamente marado do guitarrista o par deslocasse para os carrinhos de choque, pois os seus corpos ainda estão a vibrar de todo aquele frenesim. Boom chocam os dois, chocam com outro, chocam com mais cinco, estão a rir que nem loucos porque chocam toda a emoção para fora de si mesmos. Saem e vêem um aparelho gigante que empurra os seus fieis
clientes para o céu escarlate a uma velocidade alucinante e que de repente os trai, levando-os a uma queda vertiginosa. Claro que o João e a Ana querem experimentar aquelas sensações, e claro que foram, e claro que berraram como já haviam berrado o ano passado na mesma diversão, só que o ano passado a Ana estava com o Zé e o João com a Amélia, logo, este ano
a sensação tem de ser claramente diferente!

Três horas depois e eles já passaram pela banca do "tiro-ao-alvo", casa do terror, matraquilhos, mais "tiro-ao-alvo" porque a Ana queria outro peluche, mais matraquilhos porque o João queria "picar" a Ana por causa do segundo peluche e em seguida foram ver um espectáculo de arte em que o João exibiu a sua ignorância relativamente ao que estavam a ver, de modos a impressionar a Ana, e claro esta percebeu tudo mas sorriu por simpatia.

Neste momento estão só a desfrutar um olhar intenso e intencional, nota-se o reflexo dos vermelhos, verdes, azuis, amarelos, brancos das luzes que rodam nos apetrechos da feira nos seus olhos, nada os separaria nesse momento, nem nos momentos que se seguiram, nem enquanto caminhavam para fora da feira em direcção à praia, nem enquanto se deitavam na areia e deixavam o mar banhar os seus pés e pernas e nem enquanto...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Crianças

A maior responsabilidade das acções de uma criança vem da educação dos pais, por muito que os professores educadores de infância tenham bons métodos e muita paciência as crianças são moldadas pelos pais. Diz-se, "Ah tão bonito, tem os olhos do pai, o nariz da mãe", quando fazem asneira, "Ah deixa lá, são coisas de criança".

Bem deixo aqui esta noticia, claro que não digo que seja culpa dos pais o cão ter ido pelo autoclismo, mas se calhar se dessem banho ao cão na presença da criança, ela saberia que não é na sanita...Digo eu.



"Um cão com apenas uma semana de vida foi resgatado com vida do esgoto, no Reino Unido. O cachorro foi deitado pelo autoclismo por uma criança de quatro anos, que decidiu que o animal precisava de "tomar banho". "
in Cão no esgoto

terça-feira, 2 de junho de 2009

æternum

Somos apenas humanos, logo vamos morrer, aqui está um facto óbvio, aquilo que mais tememos costuma ser a morte, e quando não a tememos a nossa vida continua a girar em torno dessa fatalidade, porque se há algo que dá valor a tudo o que fazemos e um objectivo concreto é o facto que só temos uma vida para o fazer.

Alguns tentaram ser fisicamente eternos, no século XIX existiu um que teorizou a congelação como modo de hibernar e ser acordado no futuro, não é bem ser eterno mas ele queria ver como seria o futuro. Mas enquanto o corpo envelhecer a eternidade nunca será uma realidade, pelo menos a física (abordarei esta temática também quando apresentar o livro Intermitências da Morte de José Saramago).

Se existe alguma forma de eternidade essa está escrita nos livros de história, os heróis e os seus feitos, os vilões e as suas ambições, os povos corajosos, os Trezentos, os Lusitanos, etc. A única maneira de alcançar uma eternidade é fazer grandes feitos, mas isso era mais fácil há alguns séculos atrás. A nossa história pessoal passa por tudo o que fazemos, aprendemos e ensinamos, só a nossa memória perdurará, será que estar a fazer um mapa sobre a temperatura média do mês de Janeiro me vai ajudar a alcançar essa memória eterna? Vai ser útil para ensinar a todos os que vier a conhecer? Futuros amigos, colegas, amantes, filhos, netos, etc. Talvez até seja, talvez tenha um filho agricultor que necessite um dia dessa informação, ele vai-se lembrar quando for altura de fazer as plantações de Inverno, mas, esse tipo de informação está por todo o lado, não serei eterno por saber isso.

Ah mas divaguei um pouco demais, era mais fácil antes porque as pessoas estavam mais cientes do que se passava umas com as outras, podiam não ter Internet, mas estavam sensíveis a heróis, hoje passa-nos à frente mil e um feitos por dia, mas como estamos ocupados a fazer mapas sobre o sistema Invernal do mês de Janeiro que temos de decorar para um teste não nos apercebemos, nem queremos saber.

Hoje os heróis são os Hitler, Estaline, Bush(es) etc, que vão aparecendo para matar milhões, de vez enquanto aparece um Obama ou um M Luther King, um Bob Marley/John Lennon na música, e por aí fora.

domingo, 24 de maio de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

Pequeno Excerto

Apesar do pouco tempo disponível, arranjo sempre cinco, dez minutos para pegar num livro, todos os dias, nem que seja para ler apenas uma página adiando o inevitável sono:

"Sei que também te é estranho que assim seja. Podes crer, porém, que o sofrimento que infliges tantas vezes inconscientemente - e que quantas vezes logo esqueces - é para o grande homem, mesmo se incurável, motivo de reflexão em teu nome, não pela grandeza dos teus actos vis, mas exactamente pela pequenez. E é ele quem se interroga sobre o que te leva a maltratar o marido ou a mulher que te desapontou, a torturar os teus filhos porque desagradam os vizinhos odiosos, a desprezar e explorar alguém só porque é bondoso; a receber quando te dão e a dar quando te exigem, mas nunca a dar quando o que te é dado o é por amor: a bater em quem já está de rastos; a mentir quando te é pedida a verdade e a persegui-la bem mais do que à mentira. Zé Ninguém, tu estás sempre do lado dos opressores.

Para que o estimasses e te caísse em graça, o grande homem teria de se adaptar ao teu modo de ser, Zé Ninguém, falar como tu e gabar-se das mesmas virtudes. A verdade é que se ostentasse as tuas virtudes, falasse a tua linguagem e gozasse da tua amizade não seria mais grande, autêntico ou simples"

In Escuta, Zé Ninguém de Wilhelm Reich

A Observar a População V - Constatação do Óbvio

Independentemente da idade, ninguém parece interessado em compreender as pessoas à sua volta, talvez porque a realidade de outros seja demasiadamente assustadora e possa tornar-se na realidade de quem escolhe ignora-la. Talvez seja apenas o medo de abraçar a desgraça dos outros, talvez seja apenas egoísmo, sei lá se calhar é apenas natural. É mais importante ter posses, beleza e estatuto, nada do qual me interessa, nunca interessou e nunca me vai interessar. Nunca digas nunca? Eu digo, sei da utilidade do que acabei de referir, "dá jeito" ter qualquer um ou todos eles, mas não é algo que procure minimamente.

Não tenho tido disponibilidade para pensar sobre muito, e por isso a inactividade deste blog, neste mês de Maio.

domingo, 26 de abril de 2009

Caderno de Leitura I - Editorial Leya Biis

Talvez por força da necessidade provocada pela crise, talvez para marcar a diferença, talvez de um modo competitivo ou simplesmente porque acham correcto a editorial Leya Biis oferece a todos nós a oportunidade de comprarmos livros com bastante valor por apenas Cinco Euros e Noventa e Cinco Cêntimos. Pode parecer tacanho mas nem todos nós temos acesso a livros que por vezes custam mais de Trinta Euros e por isso esta editorial é bastante apelativa e ganha uma crescente onda de clientes. A partir desta editorial já me apropriei de três obras e num futuro próximo, oxalá, mais virão, apresentam além da obra capas simples e não muito floreadas.

As obras são as seguintes:

As Intermitências da Morte
por José Saramago

A Morte de Ivan Ilitch por Lev Tolstoi


Os da Minha Rua por Ondjaki

Vou tentar a partir de este pequeno "segmento" (será apropriado usar esta palavra para algo referente a um blog?), descrever algumas obras e tentar que passe o gosto pela leitura de alguns destes livros, não só desta editorial em especifico mas de livros em geral. Eu sei que isto é algo que abunda por todos e mais alguns blogs, tudo bem, mas nada como descrever o gosto que temos quando acabamos de ler um livro (gosto este misturado com alguma frustação pois a história acabou).


Nota: Quebrei a média de Cinco posts por mês no ano Dois Mil e Nove, nada como quebrar rotinas, hehe.


domingo, 19 de abril de 2009

A Observar a População IV





Quase em casa e um frio cortante.
Estou quase a chegar, mas ainda estou algo longe.
Pergunto-me porque não levei aquela blusa extra de manhã, mas isso agora já não importa muito pois não? Especialmente porque vejo uma marcha funerária e aposto que o frio que eles sentem debaixo de todos os trajes negros é cem vezes maior do que aquele eu sinto, apenas disfarçado pela comunhão de pessoas que o pobre defunto reuniu em volta do seu julgamento final.

O aparato segue por um cruzamento, e mais uma vez denoto um policia sinaleiro, lembram-se daquele que andava de roupa interior? Esqueçam, este veste de branco, é o seu traje coloquial enquanto marca o ritmo dos condutores perplexos com o que vêm. Buzinam "Sai da frente!", "Sua besta!", "A tua mãe isto e aquilo!", outros mais passivos esperam a sua vez e entram numa melancolia própria de um cortejo funerário. O herói da nossa história, o pobre prior faz o que pode para ignorar as normalidades de um dia de trabalho, na passada Quinta o condutor que insultou a sua mãe veio ao seu confessionário relatar um pecado, tinha consumado uma relação exterior ao seu casamento, encolhe os ombros e deixa-o passar, o nobre condutor retribui com a força da sua buzina.

A manhã até tinha começado bem para este prior, um beijo carinhoso na testa da sua mãe enquanto saia de casa. Olhou para a agenda e não sentiu qualquer tipo de surpresa ou stress, afinal a escolha que tinha feito à Vinte e Cinco anos atrás batia certo com a sua ideologia, logo o funeral que estava agendado para as Treze não o assustava, fazia um por semana, mais ou menos. A caminho da igreja cumprimentou a senhora Maria Agostinha, "Bom dia senhor prior", o prior retribuiu a simpatia, mais à frente foi a senhora Maria José, "Bons olhos o vejam!", mais uma vez a retribuição devida. Tudo normal e agradável.

Por volta das Quinze e Trinta e Três acabava de fazer a passagem de um verso do livro sagrado, enquanto o caixão batia finalmente no fundo da cova. Aquele era o momento mais triste de toda a marcha funerária, era o momento em que se fazia silêncio, um silêncio que podia ser quebrado num segundo ou em Trinta minutos, era o momento de quebra do prior que se afastava da zona para perguntar a Deus pela Quinquagésima vez este ano "Porquê?". Neste desconforto pegava no cogumelo mais próximo e levava a realidade ao encontro da ilusão, via figuras fantasmagóricas, umas mais simpáticas que outras.

No meio da sua overdose encontrou um cavalo com quem teve um dialogo breve, depois encontrou um esquilo no topo de uma árvore que se recusava a largar a sua apetitosa noz para vir ter com o prior. Continuou, não sabe bem a procura do quê mas lá ia ele vagueando pelo bosque, sim de repente estava num bosque, não sabe como e nem pensou nisso, mas é evidente que cavalos e esquilos falantes só existem nos bosques, aqueles mágicos. Procurou o Bambi gritando desesperado, não sabe porque estava desesperado e mais uma vez nem pensou nisso, mas continuava a chamá-lo cada vez com mais força até que a sua voz quebrou, o Bambi por seu lado não apareceu, talvez só exista mesmo nos bosques encantados da Disney. Caminhou afónico até encontrar um lobo, ou seria um cão? Não sabia destinguir pois a sua visão oscilava entre as cores azuis e vermelhas, enquanto tudo ondulava como se estivesse dentro de água. "Lindo menino" dizia o lobo-cão, "Mas que raio de sitio é este" pensou o prior embora não tenha conseguido sibilar qualquer palavra. "Vêm comigo" diz o cão "Vamos ser muito felizes e lá em casa vais encontrar a Maria, a nossa humana". Esquecendo a nobre presença que fora um dia e movido por uma estranha força o prior aceitou e seguiu o lobo-cão.

A dada altura algo ainda mais estranho acontece, agora as cores da sua visão já não são azuis e vermelhas mas rosas e verdes, a sua audição perde valor e impõe-se um assobiu surdo. Cai sem forças e sem folgo, o seu novo dono faz de tudo para o levantar mas ele apenas percebe algumas palavras que o lobo-cão diz "Ey!... vamos... bem... te... o meu... chores...". Sente uma raiva súbita e ataca o lobo-cão, não sabe porque o fez, mas apenas o fez e esta feito, agora pensa embora com pouca clareza sobre o que fazer com o corpo, escava um buraco enquanto luta contra a fraqueza e deita-se lá dentro, entre um Pai Nosso e uma Avé Maria pede ao senhor que apazigúe a sua fraca resistência ao vicio e à viagem tão fácil aos seus domínios, através de um simples fungo de horta.

Já não vê mas ainda ouve os pássaros das árvores e ainda sente as formigas a caminharem sobre os seus pés, demora algum tempo a respirar, depois demora um pouco mais, e um pouco mais, e um pouco mais, até que demora tanto tempo que não teve tempo suficiente e deixa de respirar, o último suspiro já foi e o sonho maravilhoso chega ao fim entre uma cama de hospital e um ventilador.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Amor-Ódio / Confronto e Respeito

Sempre senti uma profunda satisfação quando via os desenhos animados, era um pouco mais novo, e o "mau da fita" passava a "bom". Agora dei alguma reflexão sobre o assunto, pois é uma situação que pode acontecer no dia-a-dia com uma pessoa.

No caso de um desenho animado desprezamos a personagem má pelos seus métodos e estilo de vida, da maneira como mata inocentes ou rouba a carteira de uma avozinha. Contudo se esse mau do elenco, num turbilhão de acontecimentos, passar a bom e começar a ajudar as personagens que tanto gostamos então de repente achamos-lo fascinante, e sentimos o quão aliviado é o facto do nosso herói ter a ajuda de alguém como esse ex-vilão.

E porque será este fascínio repentino? Num desenho animado a questão de ódio para com a personagem vil é muito simples, ela é má e nós sabemos que sim, quando somos pequenos não nos apercebemos de algo muito simples. Para aquela personagem ser o grande ser maléfico que aterroriza tudo e todos, tem de ser tão magnifico quanto o nosso herói, se não, não seria tão difícil para o nosso herói dar uma sova no bandido. O bandido tem tantas qualidades físicas e mentais quanto o herói da história, e assim também acontece na realidade, podemos chegar a odiar uma pessoa por algo trivial, ser-se inimigo dessa pessoa e ao mesmo tempo admirar profundamente (e inconscientemente), essa pessoa, pois o ódio tem o mau hábito de nos obrigar a superar o inimigo e para superarmos o inimigo temos de nos aperceber das suas qualidades. Quando essa pessoa por acaso nos defende, ou nós a defendemos, apercebemos-nos que existe uma onda de conforto porque é claro como a água o reconhecimento das virtudes do novo sidekick.

Parece-me a mim que este é o "grande" mistério por detrás de uma relação de amor-ódio

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Shot of Rythm and Blues

Suave, apenas um pouco esfriada, aquela nota de Blues solta-se e torna-se um pouco mais clara, emite um tom acolhedor que aparenta não ter fonte. Diverte-se e vagueia ao sabor da corrente, corrente esta agora mais nítida em que os heróis tomaram o que era deles. Quem a vê pensará sem pensar de mais sobre o pensamento, está embriagada, não esta nota está apenas solta e vai tocando o seu timbre puro, êxtase de ilusão em que procura um pouco mais que a sua tenra realidade, pois uma nota por si só não tem muito valor, pode até ser a figura principal do espectáculo mas por muitas vezes que seja tocada, sem as outras não tem valor.

Tocou noutras notas, umas cinzentas, outras castanhas, algumas brancas, e até pretas, prendeu-se numa em especial, uma nota verde e fresca, com um toque também esta de azul, mas um azul diferente, aquele azul cristalino que se vê, numa outra substância natural que pertence a uma realidade diferente. Se ela soubesse combinar o seu azul menos suave, com um verde em sintonia talvez a outra, aquela, a verde e cyan também se tivesse prendido e rendido ao profundo azul que esta tem para oferecer. Mas como tudo o que é bom na vida, a nota verde com um toque ligeiro de cyan perdeu-se e propagou-se em direcção a outras, porventura também estas verdes com toques de cyan.

Resta a esta pequena nota de Blues continuar a vaguear em busca da sua perfeita sintonia de Jazz.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Aqueles

Pela madrugada tremeu a terra em Itália, o epicentro foi em L'Aquila a cerca de Noventa Quilómetros de Roma. Até ao momento foram dados como mortas Cento e Cinquenta pessoas, e Cinquenta Mil desalojados, assim em números redondos.

De acordo com o que se escreve por aí um cientista alertou as autoridades locais há uma semana atrás da forte possibilidade desta ocorrência, estas mesmas autoridades tentaram denunciar este homem a autoridades mais autoritárias que elas próprias, mas não no intuito de transmitir a mensagem do cientista, mas para o punir por espalhar conclusões de aparências absurdas.

Estou a ter um déjà vu de outra ocorrência catastrófica, na Ásia, na Tailândia, em que foi detectado um forte sismo em alto mar e que havia a possibilidade de ocorrer um maremoto, e assim foi, na altura também descartaram os avisos porque supostamente não queriam afastar os seus queridos turistas das zonas costeiras, pois bem, afogaram-nos.

Na TVI (se não estou em erro), falou uma mulher que está dentro da área da sismografia, e que aparentemente a reacção que as autoridades de L'Aquila tiveram perante o cientista foi normal, porque o cientista não é reconhecido e porque é muito difícil prever um sismo.
Dito isto enumerou vastas razões para a impossibilidade de prever um sismo, mesmo com Noventa Por-Cento dos dados a indicarem tal ocorrência como um facto, o sismo pode acontecer passados Vinte anos, e portanto, deve-se ignorar todos os cientistas até que passados uns minutos dos sismos os Noventa Por-Cento passem a Duzentos, e isto foi exactamente o que aconteceu. Se tivesse oportunidade então colocaria a questão à dita senhora desta forma, então e porquê gastar recursos numa unidade especial que serve para detectar sismos, se mesmo que eles tenham dados nunca vão ser utilizados até após o sismo? Mais vale nomear essa unidade de Comissão de Efeitos Posteriores. Minha opinião.


E agora uma mensagem a Aqueles que nos governam, e que nos cobram uma parte do que é nosso para nos protegerem: Façam o favor de nos proteger, obrigado.


Fonte:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1372981



domingo, 5 de abril de 2009

Princípio da Inércia

De acordo com os dicionários, Inércia:
do Latim inertia s. f.,
falta de acção; preguiça;
falta de movimento, apatia;
resistência dos corpos ao movimento;




Ora a Inércia como eu a conheço, é uma espécie de dádiva de alguém para com todo o ser humano que se disponha de a usar, sem embaraço, durante aquele momento delicado após acordar. Para mim é dos momentos mais produtivos do dia, embora paradoxalmente a palavra signifique improdução, pois é neste momento que podemos fomentar a nossa imaginação e criar, não existindo à partida nada que nos impeça de nos deliciarmos daquela força. Basicamente, é aquela preguiça matinal que nos prende à cama e que nos faz dar voltas e voltas, relaxando todos os músculos do corpo, alongando e contraindo os tendões de forma a que relaxem sobre o leito matinal, e que por último acaba mesmo por nos embalar direitinhos a mais um sonho, o Quinto ou Sexto da noite, não sei, por aí dizem os "especialistas".

Para que seja possível sentir a tal presença da Inércia, que neste momento deve parecer aliciante a quem esteja a ler, ou não, basta ter um sentido tal de irresponsabilidade que vos faça esquecer certos horários, ou como opção, acordar umas horas mais cedo, de qualquer maneira eu descarto a segunda hipótese, dormir é sagrado, até posso não dormir mais de Sete horas por noite, mas menos que isso é cansativo. E esta delicia é aquela que me acorrenta de manhã, e não permite que eu chegue a tempo às aulas, sempre foi assim, provavelmente só mudará quando me arriscar a perder emprego/salário por estar a desfrutar da magnífica e saborosa Inércia, a qual eu tive o cuidado de elevar à forma maiúscula, pois de facto merece.

Experimentem, mas tenham cuidado, é aliciante.

terça-feira, 31 de março de 2009

Curso de água

Dez da manhã, estou a inalar os gases que me são enviados directamente dos escapes dos carros. Estou a sair de casa portanto isto é apenas uma situação natural, tenho um lugar privilegiado para todo este espectáculo de cores cinzentas, hehe.

Mas okay, hoje estar levantado às Dez da manhã tem um propósito além daquele da vida rotineira, hoje estar aqui neste local e a esta hora significa que vou fugir pelas portas da traseira, vou sair a meio do espectáculo e vou concentrar os meus horizontes noutros interesses. Hoje vou ver um espectáculo de cores, em vez deste a preto e branco permanente.

Por volta das Onze encontrei um pelotão de pessoas que ficaram presas na porta de saída, afinal não era só eu que estava a achar o espectáculo desagradável, tic tac, quero sair, saiam da frente!
Enfim, já deixei o velho teatro para trás, agora é apenas um percurso que me levará a algo um pouco mais vitalicio. Bem de qualquer maneira já estou a chegar, começo a fitar planícies verdejantes, prados errigados, harmonia entre a natureza e as cores, menos cinzento esbatido e muito mais verde, amarelo, azul, branco, vermelho, entre outras cores que lá se vão despoletando na minha retina. Um vaca, Duas vacas, Três Vacas e Quarenta galinhas, Trinta e Três ovelhas e uns quantos porcos...Bem nem por isso, não contei os animais de quinta que estou a ver, mas são bastantes, se disser Cem estou tão correcto como Trezentos e Trinta e Três, porque de certo serão mais, logo esses números também se adequam. Os únicos gases por aqui disponíveis são aqueles que nos são oferecidos pela mãe natureza e as suas belas plantas.

O próprio tempo passa de modo diferente por aqui, ou melhor, passa de modo igual mas aparente ter outro peso, quando miro o relógio no velho teatro e vejo que está a bater as Três da tarde sinto que já é tarde e que estou quase a jantar, mas aqui quando vi o relógio bater as Três senti uma tranquilidade imensa pelo tempo disponível que tinha daí adiante.
Onze da Noite, tripé montado, câmara no respectivo poleiro e Uma, Duas, Três fotos, tranquilissimo e ninguém passou.

Bem agora posso fazer qualquer coisa que me apetece, estou indeciso entre ir para o telhado tirar fotos, ir para a sala ver um filme ou simplesmente ir para a rua e encontrar pessoas, sim porque por estas bandas qualquer um que nos veja saúda-nos, nem que seja por curiosidade coscuvilheira, mas torna as relações bem mais pessoais.

Assim é, vida minha aqui estou, por agora.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Uma tarde




Um leque, acetona, uma garrafa de água,
três cafés starbucks, a Rita, a Cecília e a Amélia,
três pares de óculos uns graduados e os outros dois escuros, uma escova para o cabelo, um colar exótico, verniz, soro para os olhos,
um telemóvel meio estragado mas funcional, uma licença de condução em que se lê "Vargas", uma carteira "hippy", uma chave de carro e aparenta dizer-nos "Matiz", fumar mata diz o maço de cigarros,
uma caneta da zon, uma caixa de lentes, Gosto de Ti Todos os Dias, um creme labial com aroma e sabor tropical,
numa mesa da coffee shop.
Nove amizades jovens, um museu, verde e azul juntos pelo cinzento do cimento, sol, calor numa tarde agradável, um porto de abrigo e estatuetas históricas... Uma tarde.

terça-feira, 17 de março de 2009

A Observar a População III


Ao observar a população, desta vez, através da televisão durante o programa Opinião Pública da SIC notícias, reparei na vasta ignorância e incoerência da maioria das pessoas que participaram na discussão.

Antes de mais e para que não haja qualquer confusão, o tema da discussão era a étnia cigana, e o que pensava então a população deste país. Começou por abrir com a discussão entre a pivô e um homem que participou em prol dos direitos de igualdade entre os portugueses e as pessoas de étnia cigana. Depois de uma troca de ideias formal e básica abriram o tópico de discussão em três frentes, uma, através rede telefónica, outra através de uma sondagem por sms e uma final através de mensagens enviadas igualmente por sms.

Ora bem, em primeira instância os comentários estavam calmos e acessíveis, até que a bola de neve se foi formando e aí o tom de ligeireza se dissipou, entre parasitas, usaram-se palavras como vermes e ladrões. No "chat" por sms falava-se à "toa", já que o anonimato protege qualquer um de sofrer consequências, e então conseguia ler-se de tudo e mais algo. Infelizmente facilmente conclui que a taxa de xenofobia neste país é assustadoramente grande, eu achava que era mais ou menos controlada, mas a discriminação demonstrada hoje pelo povo português só mostra que de facto este país encontra-se cerca de 300 anos atrás dos países civilizados.

Okay, só para finalizar queria dar o último toque e mostrar que a discriminação é aliada da incoerência, na sondagem que tinha referido antes a pergunta era a seguinte:

"Acha que a populção cigana é discriminada?"
16% - Sim
84% - Não


Com tudo isto referido, nem se quer dei a minha opinião à cerca do tópico, e porquê? Porque apesar de já ter convivido com pessoas de étnia cigana no passado, não creio correcto tratar-se de um assunto delicado como este com tanta abertura e facilidade, pois vai abrir feridas e contagiar as florezinhas de estufas com meia dúzia de palavras acessiveis, lavagem cerebral é gratuita e fácil, normalmente nem demora muito tempo.

Com isto deixem-me só concluir com um ditadto hiper-mega-cliché mas apropriado:

Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao vizinho

quarta-feira, 11 de março de 2009

A Magia de Outra Época


Nascido no final da década de Oitenta, a única maneira de viver qualquer sentimento e envolvimento de uma época anterior é deixar-me levar pela magia cultural deixada para trás, neste caso vou apenas abordar a temática da música, de uma forma breve e equilibrada (?).

Hoje por acaso até está um dia bestial em que o que se passou acaba por ser uma sequência natural dentro de uma teoria do caos deixada na desordem.

Não sei se já me teria passado pela cabeça isto, mas de facto ouvir música que é mais velha do que eu, aos bons e largos anos, transporta uma situação já agradável devido ao sentido de dever cumprido e a um dia fabuloso algo místico, que, transcende o meu racional. Ora para ser um pouco mais específico, pois estou a encher chouriços, e para manter-me fiel à palavra que dei de ser breve e equilibrado (?), seguia a caminho de casa, uma das duas em que habito, e sentindo-me à vontade comigo mesmo e com todo o ambiente em meu redor ia ouvindo música, como já é um hábito no meu mp4 (um mimo de objecto), e de repente vi de relance quem não poderia de algum modo ver, pois o dia estava a ser demasiado bom, vi um policia sinaleiro em roupa interior com o sinal de Stop na mão!
E como se o destino não fosse estranho o suficiente no meu mp4 começou a tocar Back in the U.S.S.R., pelos fantásticos Beatles, e no meio de isto tudo acho que senti exactamente o que sentiriam as pessoas daquela época enquanto os seus vinil tocavam esta mesma música, por estes mesmos autores. É claro que sendo isto só uma suposição, posso afirmar sem qualquer margem para dúvida que hoje senti-me diferente, senti uma euforia diferente ao viver aquela situação, se por acaso tivesse passado uma música melancólica, talvez tivesse sentido pena do tal senhor, em roupa interior.

sábado, 7 de março de 2009

Maus ventos

Sopram os ventos da mudança... Não por acaso só sopram os ventos do anticiclone dos Açores, tal como é habitual por estes lados peninsulares.

Então veja-se bem que levantando-me às Seis e Trinta da madrugada, planeando a minha saída para volta das Sete, espero no mínimo uma viagem para a capital tranquila, a ouvir a minha música (salvo seja, não me pertence como é óbvio), e a pensar o que vou fazer durante o dia. O mais normal seria acordar com a brisa fria matinal passados já uns Vinte minutos depois das Sete, já na rua. Não me concederam essa graça, mal pus o meu pé (deve ter sido o esquerdo com certeza), fora de casa levei com uma rabanada de vento assustadora e um barulho ensurdecedor, pior que o meu despertador (que raiva..), e bem mais alto que a música emprestada pelos artistas britânicos, Pink Floyd. Aquele vento é pronuncio de uma só coisa, e essa coisa não é de todo boa.

Sete e Seis da manhã, rua de habitações bem remuneradas vazia, pois aquela hora são poucos os que acordam, normalmente é uma travessia pacífica, mas hoje tenho que me desviar dos caixotes do lixo que vão rebolando pela estrada fora, da esquerda da via para a direita, da direita para a esquerda, e da lá do fundo na minha direcção. Fez-me lembrar aquele desporto de atletismo, a corrida de obstáculos. Pelo menos existe uma única e pequena vantagem num dia tão péssimo, só uma pequenina coisa que suaviza a minha serenidade, aquela falta de um barulho muito familiar que inunda a primavera, um zumbido que não passa despercebido de todo pois simboliza uma vida diferente, uma que se estende da extremidade da asa esquerda, à extremidade da asa direita, dos seus olhos esbugalhados ao ferrão (quase) venenoso, uma pequena mente a que denominamos de abelha. Odeio-as desde aquela ocasião em que por zonas fronteiriças com o reino espanhol, lá por onde habita um templo romano, eu e o meu irmão fomos atacados por um enxame delas, não houve qualquer dano físico como uma ferroada, contudo existiu um dano psicológico provocado por uma parvalhona de uma abelha que me entrou na orelha e zumbiu que nem uma louca durante aqueles 3 segundos traumatizantes. Bem posto esta vantagem em evidência vou saltar para o último capitulo desta história enfastiante.

Chegava eu há última paragem do metro, já em Lisboa, depois de uma viagem mais ou menos calma, pois dentro dos transportes é quase igual se chove ou não, especialmente no metro como é óbvio. Claro que existem aqueles dias por volta de Outubro onde chove tanto que as estações do metro, por falta de evacuação decente, ficam alagadas e então têm que ser encerradas. Bem posto isto o que encontrei após a minha viagem de metro não foi só o vento, foi o vento mas também a chuva, como se não bastasse a minha lacrimação natural devido às fortes rajadas direitinhas aos meus olhos sensíveis, agora também tinha aquela provocada pelas chuvas intensas. Saí para a direita, zona sem cobertura, uns bons Cinquenta metros, talvez mais, mirei os prédios com arcadas e pensei que encontraria aí a protecção necessária à tranquilidade do corpo, não, enganei-me, sendo que a disposição da rua a partir dos prédios era diferente, as colunas de ar também se deslocavam em direcções diferentes (e aproveitando o plural na palavra "direcções"), apanhava com o vento carregado daquele líquido celestial tanto pelo lado descoberto da arcada como pela frente. O quilómetro que me faltava para chegar ao meu destino não foi mais fácil que o quilómetro que necessitei de percorrer até à primeira estação. Resultado, uma molha descomunal e um dia muito mal começado.

E referi isto tudo porquê ? Porque me apeteceu que alguém, alem de mim, gastasse o seu tempo a ler esta extensão de texto.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Algures no Campo Grande




Era uma vez um homem da ala de psiquiatria do Hospital Júlio de Matos, vamos apelida-lo de Júlio (muito original, eu sei).
Depois era uma vez um homem banal a quem vamos chamar de Zé, ainda mais original eu admito!

O Zé vinha do seu trabalho banal, a horas banais, pelo seu percurso banal, que por acaso incluía passar ao lado do Hospital, claro que o Zé olhava sempre com anseio banal a ala psiquiátrica, mas hoje iria ter uma experiência fora do seu ímpeto banal, um encontro imediato com um dos doentes da ala, e não por ter combinado tal encontro na sua agenda banal, mas porque o homem se encontrava no pátio junto à cerca.

O Zé, claro está, sentiu o nó banal na garganta ao ver tal criatura no seu raio de acção.

Psstt - Chamou o Júlio

O Zé ignorou primeiramente. Mas a sua curiosidade menos banal lá despertou. (Que será que ele quer, bem não há-de haver mal, ele está do outro lado da vedação), pensou o Zé.

E o Júlio disse,
Como é estar aí dentro?

História baseada em factos reais

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Vida de um Pombo




Lá vem Ela do alto, aterrando graciosamente entre eles.
Ele vê-a, Ele deseja-a, Ele lança-se a Ela, mas outros também a desejam, quem não deseja a mais graciosa das pombas, a mais bela, a mais imponente, uma rainha entre as princesas.
Afasta o primeiro com um simples abanar de asas, os amedrontados também não a merecem. O segundo atira-se a Ela de cabeça, mas desta feita é ela que o assusta com uma bicada forte na asa, ao menos já lhe tocou, mas pode lamentar que essa vez será a última, pois nem hoje nem amanha (quando Ela já nem se lembrar da sua face suja), Ela lhe tocara. O terceiro é corrido pela multidão, achou que não valia a pena o esforço e agora já só sobram quatro. Dois deles apaixonam-se, afinal eram homossexuais, o último é duas vezes o tamanho d'Ele, mas Ele não o teme, enfrenta-o numa batalha violenta de bicadas, por fim a sua agilidade e perseverança vencem.

E chega em fim o momento que Ele tanto queria, o momento de suspense que levanta uma tensão de cortar à faca, eu próprio estou curioso e apreensivo ao vê-los naquela troca de olhares, penso para mim mesmo, não vaciles, já fizeste o mais difícil, tu mereces, e lá vai ele, ajeita as penas, nota-se o brilho no seu olhar, dá um passo desajeitado, dá outro um pouco melhor, dá um terceiro já curtinho mas direitinho, dá um quarto lá vai pomposo, o quinto que charme, o sexto, o sétimo, o oitavo, nono, décimo e finalmente cara-a-cara, frente-a-frente, Ele prepara-se para a conquistar, aproxima a sua face à d'Ela para um beijo fresco e exótico, não fosse Ela tão bela como é, e finalmente ... e finalmente ... e finalmente ... nada.

Ela abriu as asas e elevou-se nos céus. O ruído dos estilhaços do seu coração são quase ensurdecedores. Um segundo, só um segundo, Ela não lho concedeu, pobre pombo, está feito parvo no mesmo local onde perdeu cinco penas por Ela e ... nada.
Bem mas este pombo não desiste, abre as asas e la vai Ele em busca da sua amada. Encontra-a num parapeito onde Ela já se encontra a galantear um outro pombo e então ... Zás bicada no pescoço, o outro nem teve tempo de pestanejar e já caia a pique em direcção ao chão, Ele vira-se para Ela, mas Ela já lá não está, elevou-se no ar e desapareceu entre as muitas janelas e varandas do bairro.

Ele não desiste, ainda não é desta que se dá por vencido, encontra-a nos encantos de outro debaixo de uma árvore e ... Zás uma bicada na cabeça ... Zás uma bicada na asa, oops, por pouco não acertava n'Ela, assustada estende as asas e lá vai em busca de um posto mais pacifico e seguro, desta feita nas asas de um pombo enorme, volumoso e quase imperial. Desta vez terá pensado que podia assentar e ter muitos pombinhos grandes e fortes, enganou-se, os pombos também não se medem aos palmos e ... Zás uma placagem tão forte que o pombo grande fica K.O.
Mais um triunfo, será que chega, claro que não! Ela foge d'Ele mais uma vez, para Ela não era suficiente levar de vencido tantos concorrentes, sabe-se lá porquê!

Agora voam em círculos, Ele atrás d'Ela, tantos círculos, e mais círculos no ar, círculos que já me estão a enjoar, tanta volta que já não quero mais olhar. Nem Ela, chega, aterrou, está cansada,
Ele insiste e insiste e insiste um pouco mais, se Ela não vacila ainda acaba doida. Ele também aterra, desta feita mesmo à frente d'Ela, e agora não perde um segundo sequer, para aquele segundo não perder... Zás beijou-a. E agora o que acontece? Agora acontece que Ela gostou. AH! Afinal tanta coisa e Ela ficou encantada, gostou, finalmente vacilou e se entregou, depois de meia-hora alucinante e Ele nunca esteve mais contente.

Voaram juntos até ao topo de um prédio, provavelmente estarão a fazer o planeamento familiar, e essas coisas todas de casais... Zás bicada no olho esquerdo, veio um pombo do nada e feriu-o, está cego de um olho, bicada na pata direita, Ele perde o equilíbrio ... Zás bicada no peito, tira-lhe o folgo e finalmente um empurrão para o abismo lá em baixo. Confuso estende as asas para se equilibrar, má ideia bateu num estendal e partiu as asas em plena queda, está cego, não pode voar e está ferido, aceita a sua inevitavel queda e mergulha a pique na sua mente onde se deixa cair no vazio, onde só existe Ele, Ela e o momento do beijo, o seu primeiro e único beijo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Observar a População II



Sexta-Feira Treze, que dia tão belo, 20 ºc, cheira bem está sol, vem ai a primavera! Que porra de dia tão bom, já sonhava com um dia assim tão puro há tanto tempo. Noutro dia a bater o dente enquanto tentava dormir simulava com a minha imaginação o cheiro da primavera, e lá consegui dormir em paz com esse pensamento, hoje estou a vive-lo, eu e todos os outros.

Basta um dia de sol e está tudo diferente, ouve-se o murmúrio nos transportes alegre e contente, diferente de quando chove e faz frio, a hora de ponta já está a acontecer, e são só três da tarde, nem a crise deixa que as pessoas desperdicem o melhor dia desde há muitos meses, querem lá saber se desconta-se 0,0001% do seu ordenado por sairem uma hora mais cedo, hoje está sol e nas escolas só se ouvem crianças a gritar, eufóricos, malucos, alegres e até criativos, afinal já so faltam 10 dias para o carnaval, mais um mês para a pascoa e mais quatro para o verão!

O mãozinhas saiu a rua (é assim que chamamos ao tipo milionário que enlouqueceu e nos pede dinheiro para café), já não o via há imenso tempo, desde o verão, até cheguei a pensar o pior, mas não, lá está ele, e até parece curado da sua loucura, não esfrega as mãos de forma frenética, não pede dinheiro, está simplesmente sentado a divagar sobre algo, levanta-se subitamente e vai para o meio da estrada, pára, tira o casaco e continua a caminhar pelo meio da estrada, os carros que se desviem, e desviam mesmo sem se quer buzinar!
Passo por um jardim, abelhas por todo o lado, odeio-as, mas hoje? Hoje misturo-me na sua busca frenética por pólen nas flores mais próximas, hoje não as temo, não as evito, hoje limito-me a apreciar o seu zumbido traumatizante.
A loja do chinês que está a ser construída passa música brasileira, boa escolha! Música de verão que combina perfeitamente.
No "spot" habitual onde cheira sempre a caril, naqueles 5 metros quadrados de chão que nunca deixam de cheirar a caril, hoje cheira a sardinha assada, sim o português mal sente o verão toca de assar peixe, eu próprio fui para os carapaus ao almoço.
Consigo ouvir o chilrear de milhares de pássaros, coincidentemente a minha avó já cá não está, foi para o Alentejo, ela que dizia que os pássaros tinham sido todos mortos numa conspiração qualquer dos homens citadinos, não eles simplesmente emigraram, onde está ela para os apreciar? Hoje tudo é diferente.

Amanhã é dia dos namorados? Ah que se lixe, hoje é dia da vida, e é sexta-feira treze, toma cliché enche! Vou sair e dar uma volta, vou levar a minha câmara que tem estado inactiva e esta ao menos não me desilude nem se verga a putos com manias de monarcas, não, esta vê tudo e está-se nas tintas para as peneiras de quem quer que seja, esta olha na mesma direcção que eu, até vou jogar no euro milhões só para viver o feeling vencedor durante umas horas, estranhamente acaba por ser literáriamente porque o sistema informático da Santa Casa foi a baixo, overload! Mas hoje não importa falhar, tudo parece bem, e mais logo há teatro, Mama Mia, que bello!


Sexta-Feira Treze, onde andaste escondida!?

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O Acto de Crescer.

Ou O Ato de Crescer, de acordo com o novo acordo ortográfico...Eh batam-me se eu alguma vez escrever assim, obrigado.

Crescer acaba por ser um conceito vago que é interpretado de várias maneiras diferentes, cada qual faz a sua interpretação.

A minha passa por três factores, o primeiro é o "sofrimento", o segundo é a capacidade de contornarmos esse "sofrimento" e o terceiro a capacidade de inovar após o contornar deste dito "sofrimento".

Por "sofrimento" entendo desde qualquer tipo de dor seja esta física ou psicológica, desde um arranhão a um coração partido. A capacidade de contornarmos e superarmos esse sofrimento acaba por tornar-nos (inevitavelmente) mais fortes. Ficamos mais conscientes das adversidades no nosso passado e por isso mesmo saberemos evita-los no futuro (claro que às vezes é necessário partir um osso duas vezes para percebermos que saltar da varanda não é boa ideia, à terceira só nos apanham se quisermos, por assim dizer). A capacidade de perseverança perante qualquer adversidade é construída com um pouco de sofrimento à mistura, e a pouco e pouco começamos a valorizar o quanto algumas pessoas lutam para chegar a algo, essa capacidade de luta (para mim), é o valor mais alto que qualquer um de nós pode ter, e no entanto é muito raro ver essa capacidade. Os filmes Rocky I, II, etc afinal até tinham uma mensagem.

O terceiro factor passa pela capacidade de inovar, como já tinha referido, no âmbito em que é necessário em várias fases conhecer pessoas novas, criar novas amizades e conhecer um pouco mais o nosso belo planeta, acho que esta é a receita ideal para qualquer mal de alma pois a pouco e pouco nos apercebemos que conhecer pessoas novas traz novas mentalidades e experiências que nos possibilita aprender novas realidades.

Aqueles que se prendem demasiado ao passado são inevitavelmente apanhados num ciclo vicioso de repetição, ou tentativa de repetição, de dias que já foram marcantes, ir aos mesmos sítios com as mesmas pessoas.
Não crescem, permanecem iguais uns para os outros pois não necessitam de algo novo e sentem-se confortáveis. Não digo que isso seja errado, cada qual vive a vida a sua maneira e eu à minha, mas creio que é um factor fundamental para crescermos. Também não digo que é necessário cortar todas as ligações com o passado, isso seria apenas num caso extremo que eu espero nunca viver, mas novos ares fazem bem a todos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Justiça em Portugal

A justiça em Portugal é como uma saboneteira que chega ao fim e é reciclada com água para se aproveitar o fundo.

A minha sugestão? Comprem sabonetes.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Simbolism of a Name

I'll call you whatever i want, because the way i call you simbolizes a feeling inside of me, either it be of friendship, hate or love.

sábado, 24 de janeiro de 2009

A Imperfeição da Perfeição


Desde o momento em que nascemos procuramos ser perfeitos, de inicio porque estamos pre-dispostos geneticamente a adquirir o máximo de capacidades psico-motoras possíveis para assim sobrevivermos, mais tarde porque adquirimos o nosso "eu" social e necessitamos de nos impor entre os 6 mil milhões de humanos por esse mundo fora.

Ora o que fazemos na procura da perfeição? Primeiro e antes de mais procuramos ser supra-sociais, conhecendo tudo e todos em nosso redor, tanto para nos sentirmos "superiores" em termos territoriais como para podermos alargar o nosso leque comparativo. Ao termos objectos de comparações (pessoas), criamos uma sensação de competição em que temos de ser superiores, primeiro em termos estéticos e depois em termos objectivos (carreira), criamos um alter-ego que não é a nossa pessoa verdadeira, apenas um ser criado a partir da pressão de sobrevivência da especie, um ser que se vê perfeito e superior.

Então e qual é a piada de sermos perfeitos???
- Sou o mais belo
- Sou o mais inteligente
- Sou o mais bem constituido
- Sou o mais isto
- Sou o mais aquilo

E agora o que vou fazer da minha vida, que já alcancei tudo e todos?

Morrer.

Qual é a imperfeição da perfeição? Qual é a piada de alguém perfeito? Qual é o objectivo de alguém perfeito?

Não te aperfeiçoas, não tens piada e não tens objectivo.

Estás pronto para morrer e partir desta para melhor, para reproduzir e desaparecer, por isso quando me perguntarem se são perfeitos não se admirem que eu responda "não" e o faça para vos elogiar, porque se fossem perfeitos, não vos ligava nenhuma.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A Observar a População I



Depois de quase duas décadas de existência, decidi que está na altura de fazer algumas observações à população, e comparar com o estado actual do país. Um país embora muitos não acreditem, reflecte-se nas acções da população, como esta age no seu dia-a-dia e como esta reage em certas situações.
Diz-se que este país está atrasado, mas na realidade está óptimo para a mentalidade da população.

A maioria da população não anda nas escadas ou tapetes rolantes. Quando vamos a qualquer sitio que tenha escadas ou tapetes rolantes, a maioria das pessoas estão quietas e deixam-se levar. Se a população se sente bem ao sabor da corrente porque é que os políticos haveriam de fazer de outra maneira.

Nos comboios ou no metro, quase toda a gente vai para a primeira ou segunda carruagens, deixando as restantes carruagens semi-cheias. Apesar de todo o comboio se deslocar na mesma direcção, toda a gente se atropela para chegar ligeiramente antes, e por isso se deslocão todos para as primeiras carruagens, apesar de haver bastante espaço distribuido ao longo de um comboio.

O futebol. Preciso de me alongar neste tema? A principal religião no nosso país não é a religião católica, é de facto o futebol. As pessoas pensam que os seus males são aliviados depois de verem um jogo de bola, mas de facto tudo continua na mesma. Depois andam a "batatada" porque o seu clube foi menos bom...


To be continued...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Testes Escritos


A falácia dos testes escritos no ensino.

Os testes escritos são só um assimilar e despejar de conhecimentos que na maioria das vezes nem são úteis.

É como nos darem um saco de batatas para levar para casa, é útil no imediato, fornece o jantar, mas não nos ensinaram a plantar e colher as batatas por nós próprios, por isso não é útil para a vida. Os testes são isto mesmo conhecimento imediato que até varia com o estado emocional, basta estarmos alegres para conseguirmos estudar bem e até termos boa nota, se estivermos sobre stress e/ou deprimidos então é mais complicado estudar e o teste geralmente corre pior(sem que tenha em conta o facto de, à partida, dominarmos ou não o tema). Não nos fazem pensar apenas nos pedem que saibamos a matéria X ás horas Y, depois disso já nem interessa.

Então porquê a mesma formula de avaliação à tantos anos?

Sei lá, e duvido que eles saibam porque é que mantêm este tipo de avaliação, provavelmente não sabem nada de nada e querem apenas justificar a posição que têm com balelas (des)educativas.

"A educação moral não é encher a pessoa de conhecimentos que não tinha,
Mas promover-lhe o raciocínio moral" Kolbergh

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2009, As Doze Ilusões


"Ilusões pagam-se caras" é a frase que o Prof. Cavaco Silva escolheu para iniciar o ano que aí vem, o aviso é claro, deixem-se de tretas e façam o que tem de fazer para nos tirar deste buraco que se chama Portugal.

Não deixam de ser interessantes dois aspectos que verificaram-se com a passagem de ano. O primeiro é o facto de Dois Mil e Oito ter tido mais Um segundo, quase como se não quisesse mudar para Dois Mil e Nove. O outro é ter se verificado um denso nevoeiro (pelo menos na capital), e como se diz por ai, a passagem de ano é como se vai passar o resto do ano.

O ano anterior começou com um nascer do sol quente e aconchegador, brilhante e poderoso que não durou muito e foi engolido por nuvens e chuva o resto do dia...Tal como Dois Mil e Oito, que começou com uma perspectiva de mudança a nível mundial, mesmo com o petróleo a bater recordes históricos quase todos os dias e promessas do nosso querido primeiro ministro que Dois Mil e Oito apresentava um bom índice de desenvolvimento.
Como podemos observar deu-se a uma crise internacional, a bolsa dos EUA a cair todos os dias, a fome a aumentar com os preços do arroz, a bancarrota da Islândia.. Depois admiram-se de ver ondas de crime aqui e ali, piratas na Somália, atentados na Índia, anarquia na Grécia, etc..

Enfim só o tempo o dirá, mas os Gato Fedorento provavelmente tem razão, "bora" saltar Dois Mil e Nove e entrar já em Dois Mil e Dez :)