
Esta carta que te dirijo lembra um local que nos foi a ambos familiar, quente, mas igualmente frio e irritante.
Esse lugar, chegavas lá tu e já lá estava eu há Quatro anos, saias de lá tu completando um ciclo de Três anos e acabava eu o meu de Sete. Quando lá chegaste já eu conhecia todos os corredores, salas e recantos escondidos, sabia quem fazia o que fazia e quando o fazia e onde o fazia, reconhecia o cheiro a mofo de todas as partículas de pó de todos os andares de todos os edifícios, quando tu lá chegaste já eu estaria na crise de meia idade, em jeito de comparação, e tu acabavas de nascer para um mundo com as suas regras próprias, que não diferiam assim tanto de outros tantos mundos semelhantes. Tal como descobriste facilmente que a maior influência naquele local era o teu modo de ser, as tuas roupas e o teu discurso, nada que fosse exclusivo ou novo na tua vida. Que tal um cheirinho de memórias? Talvez não seja adequado, talvez até sejam boas mas causem o mesmo ardor que as piores.
Talvez então recordar-te apenas uma memória algo nostálgica que me aconteceu no final de o Sexto ano dentro das muralhas daquele forte, final de um ano talvez que eu queira esquecer e não consiga, pois existe um certo peso para cada memória, e o pesa desta arrasta-me até ao fundo do oceano. Certa manhã no então final do Sexto ano, desloquei-me no sentido contrário à sala de aula, depois de te ter deixado lá, e encontrei então todo o conjunto de pessoas com quem partilhávamos uma grande parte do dia, a fazerem a sua deslocação natural para a sala, mas numa ordem pouco usual, sendo que passaram por mim, todos e apenas à tua excepção em pares. Sim pares, todos eles formavam pares e passaram por mim ao longo de um corredor, quando cheguei ao fim deste, passou por mim o par final, digamos que foi um evento esmagador e singelo, digo-te isto apenas porque achei na altura fantástica a harmonia não intencional que os nossos então colegas me proporcionaram.
Sabes perfeitamente as situações que vivi, as que viste e as que não viste, mas o que não sabes é que as cores daquele nosso mundo naquela altura já há muito tinham deixado de existir, já nem a preto branco eu via aquele local, não tinha cores, era desprovido de emoções novas e de talentos diferentes.
Foi tudo demasiado parecido durante Sete anos, ou melhor, tudo de bom foi repetido demasiadas vezes ao longo desses Sete anos, desse local não guardo qualquer sentimento de saudade. Sinto sim uma saudade de certas e muito determinadas pessoas, numa lista muito restrita.
Esta carta, este texto, é especialmente para ti pois viveste comigo esse mundo.
2 comentários:
Há um estranho nevoeiro que cobre esse local, enterra quaisquer memórias.
Há ali. E depois há o resto da vida.
Se bem que acho que em miseros momentos fomos felizes naquela jaula.
essa referida jaula ou muralha parece uma referencia a vida =O em que es a pessoa mias velha que ja foi a mais velha e veste a rever todo o processo de apreendizagem.
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