sábado, 23 de maio de 2009

Pequeno Excerto

Apesar do pouco tempo disponível, arranjo sempre cinco, dez minutos para pegar num livro, todos os dias, nem que seja para ler apenas uma página adiando o inevitável sono:

"Sei que também te é estranho que assim seja. Podes crer, porém, que o sofrimento que infliges tantas vezes inconscientemente - e que quantas vezes logo esqueces - é para o grande homem, mesmo se incurável, motivo de reflexão em teu nome, não pela grandeza dos teus actos vis, mas exactamente pela pequenez. E é ele quem se interroga sobre o que te leva a maltratar o marido ou a mulher que te desapontou, a torturar os teus filhos porque desagradam os vizinhos odiosos, a desprezar e explorar alguém só porque é bondoso; a receber quando te dão e a dar quando te exigem, mas nunca a dar quando o que te é dado o é por amor: a bater em quem já está de rastos; a mentir quando te é pedida a verdade e a persegui-la bem mais do que à mentira. Zé Ninguém, tu estás sempre do lado dos opressores.

Para que o estimasses e te caísse em graça, o grande homem teria de se adaptar ao teu modo de ser, Zé Ninguém, falar como tu e gabar-se das mesmas virtudes. A verdade é que se ostentasse as tuas virtudes, falasse a tua linguagem e gozasse da tua amizade não seria mais grande, autêntico ou simples"

In Escuta, Zé Ninguém de Wilhelm Reich

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