terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pálida manhã de inverno.

É com desprezo que ouvimos o alarme. É com carinho que abraçamos a almofada mais cinco minutos, e, nesse carinho recordamos as melhores memórias dos sonhos ou do dia anterior, durante esse carinho, que é também quentinho, a fome aperta só um bocadinho. Entre dois bocejos, este é aquele momento que devia ser eterno, mas que se eterno fosse, não seria especial.

Ao décimo alarme lá te levantas, cabeça erguida, começa aqui mais um dia da tua vida. Duche quente e a correr, ou não, às vezes duche fervente e muito vagaroso,um momento absolutamente sublime em que os planetas parecem alinhados, os pássaros cantam-te nos ouvidos e, até a buzina do camião do lixo te parece agradável. Tal como no momento anterior, devia ser eterno, mas se eterno fosse, não seria especial.

Quando caminhas para o teu quarto, enrolado numa toalha, os teus pés são especiais sofredores, enquanto o resto do corpo, enrolado, se mantém quente os teus pobres pés vão a gritar, pois o soalho por baixo destes é um dos poucos momentos frios da tua manhã. Chegado novamente à cama, só te apetece dar um pulo lá para dentro, aconchegares-te novamente no seu calor, que é na realidade o teu calor. Está morna e a dissipar a tão bela e apetecível temperatura, arrefece a um ritmo alarmante, mas continua a encantar-te, como que o chamamento de um lobo alfa à sua matilha. Este sim, é um momento que não queres tornar eterno, se eterno fosse, o dia perderias.

Ignoras, puxas os lençóis e segues a tua vida, o dia é longo, molhado e frio.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

S. Martinho

vaza a vaza
enche o copo de loucura
mais uma cartada
castanha até com casca, pois
o naipe esgotou
o olhar descreto
o jogou virou
o sinal vagabundo
o licor vazou
cardal por sinal
enche aí vizinho
vamos a mais uma

domingo, 7 de novembro de 2010


Em palco só estou bem quando improviso;
Quando bem improviso,
Na personagem encarnei;
Quando na personagem encarnei,
Da minha arredei;
Quando de mim me liberto,
Sou livre

terça-feira, 22 de junho de 2010

(... ...)

You want to get up on that stage, be a singer, an actor, share your way of looking at things; show others what you think is beautiful and important, tell others what you believe in.

But suddenly you snap! You no longer care for all the things you believe in, or what's beautiful and important. You no longer share your way of looking at things, rather than that, you make them see what you want them to see, what you want them to feel, what you want them to say, and finally, what their reaction shall be. By the end of act I, you will have no problem saying that it was all for a bit of fun, and that you don't live forever.

domingo, 9 de maio de 2010

Pequeno Esquilo

Ainda receoso espreitou o Esquilo

A chuva parou

O vento amainou

A tempestade cessou

De dentro do seu tronco

O Esquilo espreitou

E Monsanto admirou

A destruição trouxera algo terrifico

Mas também belo

Agora muito mais verde

Monsanto reluzia

Pois as folhas balançavam no ar

Poisando no chão emoldurando a paisagem.

Subiu (o Esquilo) ao ramo mais alto

E daí observou a floresta transformada em mar

Um mar verde de árvores ondulantes

Dançando na gala do vento

Como se Chopin tocasse nas imediações

Esquerda, direita, um passo atrás, três à frente

Tal era a visão de um inocente que à tormenta resistira

E na sua busca da bonança avistara algo diferente

Uma árvore imponente

Não pelo seu porte

Pois não parecia forte

Não pela sua altura

Tão baixa era a sua estatura

Mas algo a diferenciava

Algo vermelho, suculento, algo desejável

No meio de Monsanto estava uma árvore cheia de

Morangos.

Vistosos e certamente saborosos

Ainda se perguntou, o Herói, se não estaria a ver coisas

Era de facto tão bela a sua visão

Que parecia um quadro em pastel

Da árvore saltou

E o trilho buscou

Depressa desanimou

Trilho não havia

A intempere tudo levou

E o verdume triunfava

Folhas no chão

Folhas no ar

Ao sabor do vento fresco

Um passo à frente e

Três para trás

Dois à direita

Recapitula e o prazer trarás

Já viu esta árvore

Ou então, talvez não

Em frente camarada

Diz um ramo no chão

Por aqui

Diz uma folha no ar

Não, por ali

Diz uma folha no chão

Demasiado verde já enjoava

E o pobre Esquilo naquele musical destoava

Verde de folhas, verde seco

O Outono ainda aí por certo

Olá, eu sou o Outono

E esta, a minha criação

Duas nozes gigantes!

E nelas pegou

E depois, tropeçou

E depois, praguejou

E com a cabeça bateu.

Dor latejante...

Levantou-se, só para cair outra vez

Fraco, rastejou para uma das nozes

Dentou-a com vigor

E um dente estalou

Pobre coitado

Perdido e esquecido, no meio de uma gala

Já sem saber onde estava

Três árvores dançavam à sua volta

Dois passos atrás, Cinco à frente

Sente Chopin, amigo felpudo

O quê?

Segue a música, amigo felpudo

Qual música?

Esta, palerma rechonchudo!

Um grito agudo!

Que até as nozes racharam

Como se de mero vidro se tratassem

E despedaçassem, em mil pedaços de euforia

Que o vento carregou alegremente

E as árvores animadas

As folhas falantes

E o Outono

Pararam.

E para baixo olharam

Um Herói laranja

Que deste mundo se despedia

Em busca de uma utopia

Por entre choros de entropia

A multidão reagia

E o Outono assobia

Um vento morno o envolvia

E algo vermelho surgia

Para sempre se lembraria

Do gosto doce da melodia

Enquanto morria.

O Outono carregou o seu corpo frágil

E agora sem vida

Para a base da árvore de morangos

Que tão perto estaria

A uns meros metros a alcançaria

A bela árvore

Imponente no seu ser

Para baixo olhou

E então se desmanchou

Tristeza profunda, chorou

Todo o suco vital que a comprou

E o vermelho transbordou

O Herói se afogou

Para sempre num mar de vermelho doce

A árvore com ele morreu

Mas....

Anos mais tarde ali aconteceu

Um milagre se teceu

Uma árvore enorme apareceu

Contendo morangos silvestres

Vermelhos e laranjas.





sábado, 10 de abril de 2010

O Bluff da Primavera


É como que

Portugal não está pronto,

O tempo aquece,

A água ferve,

A nuvem aparece.

O sol recua,

O tempo entristece.

E foge ó pedestre,

Se não a chuva ainda te oferece

Um manto que amolece,

E o espírito desvanece...

Em sonhos mornos, e,

Campos verdes.

quarta-feira, 10 de março de 2010

(...)

Estava escuro como o breu

Quando saí para o quintal,

Nem uma estrela no céu.

Mas algo cintilou

E de rompante

Tirei o meu chapéu,

Como um noivo afasta o véu,

E corri,

Corri.

Subi a vedação

E ali desejei.

Desejei aquele carrossel,

Como abelhas pelo mel.

Luxuria de pobre,

A feira que leva o cobre,

Em vez do ouro maciço

Que carrega o burro

Ao seu mestre.

Vida de lamurias d'um pedestre,

Limpando as calúnias na tasca

Do Zé Desenrasca.

Ali a uva fermentada

Sabe a banho quente,

Que calor de repente!

O âmago vira crente!!

Que o dia foi efervescente!!!

...Engano traunsente....

Afinal o dia foi igual

Euforia lateral.

Na margem do rio

Cheguei ao fim do caudal,

Na cama me deitei,

Fim do recital.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Traunsente




Traunsente, esse aroma,

Quando por aqui passaste,

Breve arrepio que encoleriza

Na perspectiva de não te ter,

Globosidade efervescente

Na ânsia de querer

Assédio!

Foi o que me fizeste

Excelso ó nobre licor!

Injúria!

Que me matas ó inolvidável,

Que me dás este ardor!

Insuperável!

Submeto-me ao teu charme

Insuficiente,

Insurge em mim

A memória de um hábito,

Vermelho e suave

A doce e alegria

De te consumir

Golo a golo,

Através do meu copo de cristal.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ensino

Um sistema que promove a mediocridade, para que por sua vez, a mediocridade crie mais mediocridade, e para que por sua vez... etc.
Onde elementos práticos são avaliados teoricamente, porque faz pleno sentido.
Em mais não me alongo, até porque a morte de cerca de Cem Mil num terramoto hoje é algo, deveras, mais importante.