domingo, 9 de maio de 2010

Pequeno Esquilo

Ainda receoso espreitou o Esquilo

A chuva parou

O vento amainou

A tempestade cessou

De dentro do seu tronco

O Esquilo espreitou

E Monsanto admirou

A destruição trouxera algo terrifico

Mas também belo

Agora muito mais verde

Monsanto reluzia

Pois as folhas balançavam no ar

Poisando no chão emoldurando a paisagem.

Subiu (o Esquilo) ao ramo mais alto

E daí observou a floresta transformada em mar

Um mar verde de árvores ondulantes

Dançando na gala do vento

Como se Chopin tocasse nas imediações

Esquerda, direita, um passo atrás, três à frente

Tal era a visão de um inocente que à tormenta resistira

E na sua busca da bonança avistara algo diferente

Uma árvore imponente

Não pelo seu porte

Pois não parecia forte

Não pela sua altura

Tão baixa era a sua estatura

Mas algo a diferenciava

Algo vermelho, suculento, algo desejável

No meio de Monsanto estava uma árvore cheia de

Morangos.

Vistosos e certamente saborosos

Ainda se perguntou, o Herói, se não estaria a ver coisas

Era de facto tão bela a sua visão

Que parecia um quadro em pastel

Da árvore saltou

E o trilho buscou

Depressa desanimou

Trilho não havia

A intempere tudo levou

E o verdume triunfava

Folhas no chão

Folhas no ar

Ao sabor do vento fresco

Um passo à frente e

Três para trás

Dois à direita

Recapitula e o prazer trarás

Já viu esta árvore

Ou então, talvez não

Em frente camarada

Diz um ramo no chão

Por aqui

Diz uma folha no ar

Não, por ali

Diz uma folha no chão

Demasiado verde já enjoava

E o pobre Esquilo naquele musical destoava

Verde de folhas, verde seco

O Outono ainda aí por certo

Olá, eu sou o Outono

E esta, a minha criação

Duas nozes gigantes!

E nelas pegou

E depois, tropeçou

E depois, praguejou

E com a cabeça bateu.

Dor latejante...

Levantou-se, só para cair outra vez

Fraco, rastejou para uma das nozes

Dentou-a com vigor

E um dente estalou

Pobre coitado

Perdido e esquecido, no meio de uma gala

Já sem saber onde estava

Três árvores dançavam à sua volta

Dois passos atrás, Cinco à frente

Sente Chopin, amigo felpudo

O quê?

Segue a música, amigo felpudo

Qual música?

Esta, palerma rechonchudo!

Um grito agudo!

Que até as nozes racharam

Como se de mero vidro se tratassem

E despedaçassem, em mil pedaços de euforia

Que o vento carregou alegremente

E as árvores animadas

As folhas falantes

E o Outono

Pararam.

E para baixo olharam

Um Herói laranja

Que deste mundo se despedia

Em busca de uma utopia

Por entre choros de entropia

A multidão reagia

E o Outono assobia

Um vento morno o envolvia

E algo vermelho surgia

Para sempre se lembraria

Do gosto doce da melodia

Enquanto morria.

O Outono carregou o seu corpo frágil

E agora sem vida

Para a base da árvore de morangos

Que tão perto estaria

A uns meros metros a alcançaria

A bela árvore

Imponente no seu ser

Para baixo olhou

E então se desmanchou

Tristeza profunda, chorou

Todo o suco vital que a comprou

E o vermelho transbordou

O Herói se afogou

Para sempre num mar de vermelho doce

A árvore com ele morreu

Mas....

Anos mais tarde ali aconteceu

Um milagre se teceu

Uma árvore enorme apareceu

Contendo morangos silvestres

Vermelhos e laranjas.





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