domingo, 26 de abril de 2009

Caderno de Leitura I - Editorial Leya Biis

Talvez por força da necessidade provocada pela crise, talvez para marcar a diferença, talvez de um modo competitivo ou simplesmente porque acham correcto a editorial Leya Biis oferece a todos nós a oportunidade de comprarmos livros com bastante valor por apenas Cinco Euros e Noventa e Cinco Cêntimos. Pode parecer tacanho mas nem todos nós temos acesso a livros que por vezes custam mais de Trinta Euros e por isso esta editorial é bastante apelativa e ganha uma crescente onda de clientes. A partir desta editorial já me apropriei de três obras e num futuro próximo, oxalá, mais virão, apresentam além da obra capas simples e não muito floreadas.

As obras são as seguintes:

As Intermitências da Morte
por José Saramago

A Morte de Ivan Ilitch por Lev Tolstoi


Os da Minha Rua por Ondjaki

Vou tentar a partir de este pequeno "segmento" (será apropriado usar esta palavra para algo referente a um blog?), descrever algumas obras e tentar que passe o gosto pela leitura de alguns destes livros, não só desta editorial em especifico mas de livros em geral. Eu sei que isto é algo que abunda por todos e mais alguns blogs, tudo bem, mas nada como descrever o gosto que temos quando acabamos de ler um livro (gosto este misturado com alguma frustação pois a história acabou).


Nota: Quebrei a média de Cinco posts por mês no ano Dois Mil e Nove, nada como quebrar rotinas, hehe.


domingo, 19 de abril de 2009

A Observar a População IV





Quase em casa e um frio cortante.
Estou quase a chegar, mas ainda estou algo longe.
Pergunto-me porque não levei aquela blusa extra de manhã, mas isso agora já não importa muito pois não? Especialmente porque vejo uma marcha funerária e aposto que o frio que eles sentem debaixo de todos os trajes negros é cem vezes maior do que aquele eu sinto, apenas disfarçado pela comunhão de pessoas que o pobre defunto reuniu em volta do seu julgamento final.

O aparato segue por um cruzamento, e mais uma vez denoto um policia sinaleiro, lembram-se daquele que andava de roupa interior? Esqueçam, este veste de branco, é o seu traje coloquial enquanto marca o ritmo dos condutores perplexos com o que vêm. Buzinam "Sai da frente!", "Sua besta!", "A tua mãe isto e aquilo!", outros mais passivos esperam a sua vez e entram numa melancolia própria de um cortejo funerário. O herói da nossa história, o pobre prior faz o que pode para ignorar as normalidades de um dia de trabalho, na passada Quinta o condutor que insultou a sua mãe veio ao seu confessionário relatar um pecado, tinha consumado uma relação exterior ao seu casamento, encolhe os ombros e deixa-o passar, o nobre condutor retribui com a força da sua buzina.

A manhã até tinha começado bem para este prior, um beijo carinhoso na testa da sua mãe enquanto saia de casa. Olhou para a agenda e não sentiu qualquer tipo de surpresa ou stress, afinal a escolha que tinha feito à Vinte e Cinco anos atrás batia certo com a sua ideologia, logo o funeral que estava agendado para as Treze não o assustava, fazia um por semana, mais ou menos. A caminho da igreja cumprimentou a senhora Maria Agostinha, "Bom dia senhor prior", o prior retribuiu a simpatia, mais à frente foi a senhora Maria José, "Bons olhos o vejam!", mais uma vez a retribuição devida. Tudo normal e agradável.

Por volta das Quinze e Trinta e Três acabava de fazer a passagem de um verso do livro sagrado, enquanto o caixão batia finalmente no fundo da cova. Aquele era o momento mais triste de toda a marcha funerária, era o momento em que se fazia silêncio, um silêncio que podia ser quebrado num segundo ou em Trinta minutos, era o momento de quebra do prior que se afastava da zona para perguntar a Deus pela Quinquagésima vez este ano "Porquê?". Neste desconforto pegava no cogumelo mais próximo e levava a realidade ao encontro da ilusão, via figuras fantasmagóricas, umas mais simpáticas que outras.

No meio da sua overdose encontrou um cavalo com quem teve um dialogo breve, depois encontrou um esquilo no topo de uma árvore que se recusava a largar a sua apetitosa noz para vir ter com o prior. Continuou, não sabe bem a procura do quê mas lá ia ele vagueando pelo bosque, sim de repente estava num bosque, não sabe como e nem pensou nisso, mas é evidente que cavalos e esquilos falantes só existem nos bosques, aqueles mágicos. Procurou o Bambi gritando desesperado, não sabe porque estava desesperado e mais uma vez nem pensou nisso, mas continuava a chamá-lo cada vez com mais força até que a sua voz quebrou, o Bambi por seu lado não apareceu, talvez só exista mesmo nos bosques encantados da Disney. Caminhou afónico até encontrar um lobo, ou seria um cão? Não sabia destinguir pois a sua visão oscilava entre as cores azuis e vermelhas, enquanto tudo ondulava como se estivesse dentro de água. "Lindo menino" dizia o lobo-cão, "Mas que raio de sitio é este" pensou o prior embora não tenha conseguido sibilar qualquer palavra. "Vêm comigo" diz o cão "Vamos ser muito felizes e lá em casa vais encontrar a Maria, a nossa humana". Esquecendo a nobre presença que fora um dia e movido por uma estranha força o prior aceitou e seguiu o lobo-cão.

A dada altura algo ainda mais estranho acontece, agora as cores da sua visão já não são azuis e vermelhas mas rosas e verdes, a sua audição perde valor e impõe-se um assobiu surdo. Cai sem forças e sem folgo, o seu novo dono faz de tudo para o levantar mas ele apenas percebe algumas palavras que o lobo-cão diz "Ey!... vamos... bem... te... o meu... chores...". Sente uma raiva súbita e ataca o lobo-cão, não sabe porque o fez, mas apenas o fez e esta feito, agora pensa embora com pouca clareza sobre o que fazer com o corpo, escava um buraco enquanto luta contra a fraqueza e deita-se lá dentro, entre um Pai Nosso e uma Avé Maria pede ao senhor que apazigúe a sua fraca resistência ao vicio e à viagem tão fácil aos seus domínios, através de um simples fungo de horta.

Já não vê mas ainda ouve os pássaros das árvores e ainda sente as formigas a caminharem sobre os seus pés, demora algum tempo a respirar, depois demora um pouco mais, e um pouco mais, e um pouco mais, até que demora tanto tempo que não teve tempo suficiente e deixa de respirar, o último suspiro já foi e o sonho maravilhoso chega ao fim entre uma cama de hospital e um ventilador.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Amor-Ódio / Confronto e Respeito

Sempre senti uma profunda satisfação quando via os desenhos animados, era um pouco mais novo, e o "mau da fita" passava a "bom". Agora dei alguma reflexão sobre o assunto, pois é uma situação que pode acontecer no dia-a-dia com uma pessoa.

No caso de um desenho animado desprezamos a personagem má pelos seus métodos e estilo de vida, da maneira como mata inocentes ou rouba a carteira de uma avozinha. Contudo se esse mau do elenco, num turbilhão de acontecimentos, passar a bom e começar a ajudar as personagens que tanto gostamos então de repente achamos-lo fascinante, e sentimos o quão aliviado é o facto do nosso herói ter a ajuda de alguém como esse ex-vilão.

E porque será este fascínio repentino? Num desenho animado a questão de ódio para com a personagem vil é muito simples, ela é má e nós sabemos que sim, quando somos pequenos não nos apercebemos de algo muito simples. Para aquela personagem ser o grande ser maléfico que aterroriza tudo e todos, tem de ser tão magnifico quanto o nosso herói, se não, não seria tão difícil para o nosso herói dar uma sova no bandido. O bandido tem tantas qualidades físicas e mentais quanto o herói da história, e assim também acontece na realidade, podemos chegar a odiar uma pessoa por algo trivial, ser-se inimigo dessa pessoa e ao mesmo tempo admirar profundamente (e inconscientemente), essa pessoa, pois o ódio tem o mau hábito de nos obrigar a superar o inimigo e para superarmos o inimigo temos de nos aperceber das suas qualidades. Quando essa pessoa por acaso nos defende, ou nós a defendemos, apercebemos-nos que existe uma onda de conforto porque é claro como a água o reconhecimento das virtudes do novo sidekick.

Parece-me a mim que este é o "grande" mistério por detrás de uma relação de amor-ódio

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Shot of Rythm and Blues

Suave, apenas um pouco esfriada, aquela nota de Blues solta-se e torna-se um pouco mais clara, emite um tom acolhedor que aparenta não ter fonte. Diverte-se e vagueia ao sabor da corrente, corrente esta agora mais nítida em que os heróis tomaram o que era deles. Quem a vê pensará sem pensar de mais sobre o pensamento, está embriagada, não esta nota está apenas solta e vai tocando o seu timbre puro, êxtase de ilusão em que procura um pouco mais que a sua tenra realidade, pois uma nota por si só não tem muito valor, pode até ser a figura principal do espectáculo mas por muitas vezes que seja tocada, sem as outras não tem valor.

Tocou noutras notas, umas cinzentas, outras castanhas, algumas brancas, e até pretas, prendeu-se numa em especial, uma nota verde e fresca, com um toque também esta de azul, mas um azul diferente, aquele azul cristalino que se vê, numa outra substância natural que pertence a uma realidade diferente. Se ela soubesse combinar o seu azul menos suave, com um verde em sintonia talvez a outra, aquela, a verde e cyan também se tivesse prendido e rendido ao profundo azul que esta tem para oferecer. Mas como tudo o que é bom na vida, a nota verde com um toque ligeiro de cyan perdeu-se e propagou-se em direcção a outras, porventura também estas verdes com toques de cyan.

Resta a esta pequena nota de Blues continuar a vaguear em busca da sua perfeita sintonia de Jazz.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Aqueles

Pela madrugada tremeu a terra em Itália, o epicentro foi em L'Aquila a cerca de Noventa Quilómetros de Roma. Até ao momento foram dados como mortas Cento e Cinquenta pessoas, e Cinquenta Mil desalojados, assim em números redondos.

De acordo com o que se escreve por aí um cientista alertou as autoridades locais há uma semana atrás da forte possibilidade desta ocorrência, estas mesmas autoridades tentaram denunciar este homem a autoridades mais autoritárias que elas próprias, mas não no intuito de transmitir a mensagem do cientista, mas para o punir por espalhar conclusões de aparências absurdas.

Estou a ter um déjà vu de outra ocorrência catastrófica, na Ásia, na Tailândia, em que foi detectado um forte sismo em alto mar e que havia a possibilidade de ocorrer um maremoto, e assim foi, na altura também descartaram os avisos porque supostamente não queriam afastar os seus queridos turistas das zonas costeiras, pois bem, afogaram-nos.

Na TVI (se não estou em erro), falou uma mulher que está dentro da área da sismografia, e que aparentemente a reacção que as autoridades de L'Aquila tiveram perante o cientista foi normal, porque o cientista não é reconhecido e porque é muito difícil prever um sismo.
Dito isto enumerou vastas razões para a impossibilidade de prever um sismo, mesmo com Noventa Por-Cento dos dados a indicarem tal ocorrência como um facto, o sismo pode acontecer passados Vinte anos, e portanto, deve-se ignorar todos os cientistas até que passados uns minutos dos sismos os Noventa Por-Cento passem a Duzentos, e isto foi exactamente o que aconteceu. Se tivesse oportunidade então colocaria a questão à dita senhora desta forma, então e porquê gastar recursos numa unidade especial que serve para detectar sismos, se mesmo que eles tenham dados nunca vão ser utilizados até após o sismo? Mais vale nomear essa unidade de Comissão de Efeitos Posteriores. Minha opinião.


E agora uma mensagem a Aqueles que nos governam, e que nos cobram uma parte do que é nosso para nos protegerem: Façam o favor de nos proteger, obrigado.


Fonte:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1372981



domingo, 5 de abril de 2009

Princípio da Inércia

De acordo com os dicionários, Inércia:
do Latim inertia s. f.,
falta de acção; preguiça;
falta de movimento, apatia;
resistência dos corpos ao movimento;




Ora a Inércia como eu a conheço, é uma espécie de dádiva de alguém para com todo o ser humano que se disponha de a usar, sem embaraço, durante aquele momento delicado após acordar. Para mim é dos momentos mais produtivos do dia, embora paradoxalmente a palavra signifique improdução, pois é neste momento que podemos fomentar a nossa imaginação e criar, não existindo à partida nada que nos impeça de nos deliciarmos daquela força. Basicamente, é aquela preguiça matinal que nos prende à cama e que nos faz dar voltas e voltas, relaxando todos os músculos do corpo, alongando e contraindo os tendões de forma a que relaxem sobre o leito matinal, e que por último acaba mesmo por nos embalar direitinhos a mais um sonho, o Quinto ou Sexto da noite, não sei, por aí dizem os "especialistas".

Para que seja possível sentir a tal presença da Inércia, que neste momento deve parecer aliciante a quem esteja a ler, ou não, basta ter um sentido tal de irresponsabilidade que vos faça esquecer certos horários, ou como opção, acordar umas horas mais cedo, de qualquer maneira eu descarto a segunda hipótese, dormir é sagrado, até posso não dormir mais de Sete horas por noite, mas menos que isso é cansativo. E esta delicia é aquela que me acorrenta de manhã, e não permite que eu chegue a tempo às aulas, sempre foi assim, provavelmente só mudará quando me arriscar a perder emprego/salário por estar a desfrutar da magnífica e saborosa Inércia, a qual eu tive o cuidado de elevar à forma maiúscula, pois de facto merece.

Experimentem, mas tenham cuidado, é aliciante.