sábado, 28 de fevereiro de 2009

Algures no Campo Grande




Era uma vez um homem da ala de psiquiatria do Hospital Júlio de Matos, vamos apelida-lo de Júlio (muito original, eu sei).
Depois era uma vez um homem banal a quem vamos chamar de Zé, ainda mais original eu admito!

O Zé vinha do seu trabalho banal, a horas banais, pelo seu percurso banal, que por acaso incluía passar ao lado do Hospital, claro que o Zé olhava sempre com anseio banal a ala psiquiátrica, mas hoje iria ter uma experiência fora do seu ímpeto banal, um encontro imediato com um dos doentes da ala, e não por ter combinado tal encontro na sua agenda banal, mas porque o homem se encontrava no pátio junto à cerca.

O Zé, claro está, sentiu o nó banal na garganta ao ver tal criatura no seu raio de acção.

Psstt - Chamou o Júlio

O Zé ignorou primeiramente. Mas a sua curiosidade menos banal lá despertou. (Que será que ele quer, bem não há-de haver mal, ele está do outro lado da vedação), pensou o Zé.

E o Júlio disse,
Como é estar aí dentro?

História baseada em factos reais

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Vida de um Pombo




Lá vem Ela do alto, aterrando graciosamente entre eles.
Ele vê-a, Ele deseja-a, Ele lança-se a Ela, mas outros também a desejam, quem não deseja a mais graciosa das pombas, a mais bela, a mais imponente, uma rainha entre as princesas.
Afasta o primeiro com um simples abanar de asas, os amedrontados também não a merecem. O segundo atira-se a Ela de cabeça, mas desta feita é ela que o assusta com uma bicada forte na asa, ao menos já lhe tocou, mas pode lamentar que essa vez será a última, pois nem hoje nem amanha (quando Ela já nem se lembrar da sua face suja), Ela lhe tocara. O terceiro é corrido pela multidão, achou que não valia a pena o esforço e agora já só sobram quatro. Dois deles apaixonam-se, afinal eram homossexuais, o último é duas vezes o tamanho d'Ele, mas Ele não o teme, enfrenta-o numa batalha violenta de bicadas, por fim a sua agilidade e perseverança vencem.

E chega em fim o momento que Ele tanto queria, o momento de suspense que levanta uma tensão de cortar à faca, eu próprio estou curioso e apreensivo ao vê-los naquela troca de olhares, penso para mim mesmo, não vaciles, já fizeste o mais difícil, tu mereces, e lá vai ele, ajeita as penas, nota-se o brilho no seu olhar, dá um passo desajeitado, dá outro um pouco melhor, dá um terceiro já curtinho mas direitinho, dá um quarto lá vai pomposo, o quinto que charme, o sexto, o sétimo, o oitavo, nono, décimo e finalmente cara-a-cara, frente-a-frente, Ele prepara-se para a conquistar, aproxima a sua face à d'Ela para um beijo fresco e exótico, não fosse Ela tão bela como é, e finalmente ... e finalmente ... e finalmente ... nada.

Ela abriu as asas e elevou-se nos céus. O ruído dos estilhaços do seu coração são quase ensurdecedores. Um segundo, só um segundo, Ela não lho concedeu, pobre pombo, está feito parvo no mesmo local onde perdeu cinco penas por Ela e ... nada.
Bem mas este pombo não desiste, abre as asas e la vai Ele em busca da sua amada. Encontra-a num parapeito onde Ela já se encontra a galantear um outro pombo e então ... Zás bicada no pescoço, o outro nem teve tempo de pestanejar e já caia a pique em direcção ao chão, Ele vira-se para Ela, mas Ela já lá não está, elevou-se no ar e desapareceu entre as muitas janelas e varandas do bairro.

Ele não desiste, ainda não é desta que se dá por vencido, encontra-a nos encantos de outro debaixo de uma árvore e ... Zás uma bicada na cabeça ... Zás uma bicada na asa, oops, por pouco não acertava n'Ela, assustada estende as asas e lá vai em busca de um posto mais pacifico e seguro, desta feita nas asas de um pombo enorme, volumoso e quase imperial. Desta vez terá pensado que podia assentar e ter muitos pombinhos grandes e fortes, enganou-se, os pombos também não se medem aos palmos e ... Zás uma placagem tão forte que o pombo grande fica K.O.
Mais um triunfo, será que chega, claro que não! Ela foge d'Ele mais uma vez, para Ela não era suficiente levar de vencido tantos concorrentes, sabe-se lá porquê!

Agora voam em círculos, Ele atrás d'Ela, tantos círculos, e mais círculos no ar, círculos que já me estão a enjoar, tanta volta que já não quero mais olhar. Nem Ela, chega, aterrou, está cansada,
Ele insiste e insiste e insiste um pouco mais, se Ela não vacila ainda acaba doida. Ele também aterra, desta feita mesmo à frente d'Ela, e agora não perde um segundo sequer, para aquele segundo não perder... Zás beijou-a. E agora o que acontece? Agora acontece que Ela gostou. AH! Afinal tanta coisa e Ela ficou encantada, gostou, finalmente vacilou e se entregou, depois de meia-hora alucinante e Ele nunca esteve mais contente.

Voaram juntos até ao topo de um prédio, provavelmente estarão a fazer o planeamento familiar, e essas coisas todas de casais... Zás bicada no olho esquerdo, veio um pombo do nada e feriu-o, está cego de um olho, bicada na pata direita, Ele perde o equilíbrio ... Zás bicada no peito, tira-lhe o folgo e finalmente um empurrão para o abismo lá em baixo. Confuso estende as asas para se equilibrar, má ideia bateu num estendal e partiu as asas em plena queda, está cego, não pode voar e está ferido, aceita a sua inevitavel queda e mergulha a pique na sua mente onde se deixa cair no vazio, onde só existe Ele, Ela e o momento do beijo, o seu primeiro e único beijo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Observar a População II



Sexta-Feira Treze, que dia tão belo, 20 ºc, cheira bem está sol, vem ai a primavera! Que porra de dia tão bom, já sonhava com um dia assim tão puro há tanto tempo. Noutro dia a bater o dente enquanto tentava dormir simulava com a minha imaginação o cheiro da primavera, e lá consegui dormir em paz com esse pensamento, hoje estou a vive-lo, eu e todos os outros.

Basta um dia de sol e está tudo diferente, ouve-se o murmúrio nos transportes alegre e contente, diferente de quando chove e faz frio, a hora de ponta já está a acontecer, e são só três da tarde, nem a crise deixa que as pessoas desperdicem o melhor dia desde há muitos meses, querem lá saber se desconta-se 0,0001% do seu ordenado por sairem uma hora mais cedo, hoje está sol e nas escolas só se ouvem crianças a gritar, eufóricos, malucos, alegres e até criativos, afinal já so faltam 10 dias para o carnaval, mais um mês para a pascoa e mais quatro para o verão!

O mãozinhas saiu a rua (é assim que chamamos ao tipo milionário que enlouqueceu e nos pede dinheiro para café), já não o via há imenso tempo, desde o verão, até cheguei a pensar o pior, mas não, lá está ele, e até parece curado da sua loucura, não esfrega as mãos de forma frenética, não pede dinheiro, está simplesmente sentado a divagar sobre algo, levanta-se subitamente e vai para o meio da estrada, pára, tira o casaco e continua a caminhar pelo meio da estrada, os carros que se desviem, e desviam mesmo sem se quer buzinar!
Passo por um jardim, abelhas por todo o lado, odeio-as, mas hoje? Hoje misturo-me na sua busca frenética por pólen nas flores mais próximas, hoje não as temo, não as evito, hoje limito-me a apreciar o seu zumbido traumatizante.
A loja do chinês que está a ser construída passa música brasileira, boa escolha! Música de verão que combina perfeitamente.
No "spot" habitual onde cheira sempre a caril, naqueles 5 metros quadrados de chão que nunca deixam de cheirar a caril, hoje cheira a sardinha assada, sim o português mal sente o verão toca de assar peixe, eu próprio fui para os carapaus ao almoço.
Consigo ouvir o chilrear de milhares de pássaros, coincidentemente a minha avó já cá não está, foi para o Alentejo, ela que dizia que os pássaros tinham sido todos mortos numa conspiração qualquer dos homens citadinos, não eles simplesmente emigraram, onde está ela para os apreciar? Hoje tudo é diferente.

Amanhã é dia dos namorados? Ah que se lixe, hoje é dia da vida, e é sexta-feira treze, toma cliché enche! Vou sair e dar uma volta, vou levar a minha câmara que tem estado inactiva e esta ao menos não me desilude nem se verga a putos com manias de monarcas, não, esta vê tudo e está-se nas tintas para as peneiras de quem quer que seja, esta olha na mesma direcção que eu, até vou jogar no euro milhões só para viver o feeling vencedor durante umas horas, estranhamente acaba por ser literáriamente porque o sistema informático da Santa Casa foi a baixo, overload! Mas hoje não importa falhar, tudo parece bem, e mais logo há teatro, Mama Mia, que bello!


Sexta-Feira Treze, onde andaste escondida!?

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O Acto de Crescer.

Ou O Ato de Crescer, de acordo com o novo acordo ortográfico...Eh batam-me se eu alguma vez escrever assim, obrigado.

Crescer acaba por ser um conceito vago que é interpretado de várias maneiras diferentes, cada qual faz a sua interpretação.

A minha passa por três factores, o primeiro é o "sofrimento", o segundo é a capacidade de contornarmos esse "sofrimento" e o terceiro a capacidade de inovar após o contornar deste dito "sofrimento".

Por "sofrimento" entendo desde qualquer tipo de dor seja esta física ou psicológica, desde um arranhão a um coração partido. A capacidade de contornarmos e superarmos esse sofrimento acaba por tornar-nos (inevitavelmente) mais fortes. Ficamos mais conscientes das adversidades no nosso passado e por isso mesmo saberemos evita-los no futuro (claro que às vezes é necessário partir um osso duas vezes para percebermos que saltar da varanda não é boa ideia, à terceira só nos apanham se quisermos, por assim dizer). A capacidade de perseverança perante qualquer adversidade é construída com um pouco de sofrimento à mistura, e a pouco e pouco começamos a valorizar o quanto algumas pessoas lutam para chegar a algo, essa capacidade de luta (para mim), é o valor mais alto que qualquer um de nós pode ter, e no entanto é muito raro ver essa capacidade. Os filmes Rocky I, II, etc afinal até tinham uma mensagem.

O terceiro factor passa pela capacidade de inovar, como já tinha referido, no âmbito em que é necessário em várias fases conhecer pessoas novas, criar novas amizades e conhecer um pouco mais o nosso belo planeta, acho que esta é a receita ideal para qualquer mal de alma pois a pouco e pouco nos apercebemos que conhecer pessoas novas traz novas mentalidades e experiências que nos possibilita aprender novas realidades.

Aqueles que se prendem demasiado ao passado são inevitavelmente apanhados num ciclo vicioso de repetição, ou tentativa de repetição, de dias que já foram marcantes, ir aos mesmos sítios com as mesmas pessoas.
Não crescem, permanecem iguais uns para os outros pois não necessitam de algo novo e sentem-se confortáveis. Não digo que isso seja errado, cada qual vive a vida a sua maneira e eu à minha, mas creio que é um factor fundamental para crescermos. Também não digo que é necessário cortar todas as ligações com o passado, isso seria apenas num caso extremo que eu espero nunca viver, mas novos ares fazem bem a todos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A Justiça em Portugal

A justiça em Portugal é como uma saboneteira que chega ao fim e é reciclada com água para se aproveitar o fundo.

A minha sugestão? Comprem sabonetes.