A chuva parou
O vento amainou
A tempestade cessou
De dentro do seu tronco
O Esquilo espreitou
E Monsanto admirou
A destruição trouxera algo terrifico
A destruição trouxera algo terrifico
Mas também belo
Agora muito mais verde
Monsanto reluzia
Pois as folhas balançavam no ar
Poisando no chão emoldurando a paisagem.
Subiu (o Esquilo) ao ramo mais alto
E daí observou a floresta transformada em mar
E daí observou a floresta transformada em mar
Um mar verde de árvores ondulantes
Dançando na gala do vento
Como se Chopin tocasse nas imediações
Esquerda, direita, um passo atrás, três à frente
Tal era a visão de um inocente que à tormenta resistira
E na sua busca da bonança avistara algo diferente
Uma árvore imponente
Não pelo seu porte
Não pelo seu porte
Pois não parecia forte
Não pela sua altura
Tão baixa era a sua estatura
Mas algo a diferenciava
Algo vermelho, suculento, algo desejável
No meio de Monsanto estava uma árvore cheia de
Morangos.
Vistosos e certamente saborosos
Ainda se perguntou, o Herói, se não estaria a ver coisas
Era de facto tão bela a sua visão
Que parecia um quadro em pastel
Da árvore saltou
E o trilho buscou
Depressa desanimou
Trilho não havia
A intempere tudo levou
E o verdume triunfava
Folhas no chão
Folhas no ar
Ao sabor do vento fresco
Um passo à frente e
Três para trás
Dois à direita
Recapitula e o prazer trarás
Já viu esta árvore
Ou então, talvez não
Em frente camarada
Diz um ramo no chão
Por aqui
Diz uma folha no ar
Não, por ali
Diz uma folha no chão
Demasiado verde já enjoava
E o pobre Esquilo naquele musical destoava
Verde de folhas, verde seco
O Outono ainda aí por certo
Olá, eu sou o Outono
E esta, a minha criação
Duas nozes gigantes!
E nelas pegou
E depois, tropeçou
E depois, praguejou
E com a cabeça bateu.
Dor latejante...
Levantou-se, só para cair outra vez
Fraco, rastejou para uma das nozes
Dentou-a com vigor
E um dente estalou
Pobre coitado
Perdido e esquecido, no meio de uma gala
Já sem saber onde estava
Três árvores dançavam à sua volta
Dois passos atrás, Cinco à frente
Sente Chopin, amigo felpudo
O quê?
Segue a música, amigo felpudo
Qual música?
Esta, palerma rechonchudo!
Esta, palerma rechonchudo!
Um grito agudo!
Que até as nozes racharam
Que até as nozes racharam
Como se de mero vidro se tratassem
E despedaçassem, em mil pedaços de euforia
Que o vento carregou alegremente
E as árvores animadas
As folhas falantes
E o Outono
Pararam.
E para baixo olharam
Um Herói laranja
Que deste mundo se despedia
Em busca de uma utopia
Por entre choros de entropia
A multidão reagia
E o Outono assobia
Um vento morno o envolvia
E algo vermelho surgia
Para sempre se lembraria
Do gosto doce da melodia
Enquanto morria.
O Outono carregou o seu corpo frágil
E agora sem vida
Para a base da árvore de morangos
Que tão perto estaria
A uns meros metros a alcançaria
A bela árvore
Imponente no seu ser
Para baixo olhou
E então se desmanchou
Tristeza profunda, chorou
Todo o suco vital que a comprou
E o vermelho transbordou
O Herói se afogou
Para sempre num mar de vermelho doce
A árvore com ele morreu
Mas....
Anos mais tarde ali aconteceu
Um milagre se teceu
Uma árvore enorme apareceu
Contendo morangos silvestres
Vermelhos e laranjas.