quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma carta de um passado


Esta carta que te dirijo lembra um local que nos foi a ambos familiar, quente, mas igualmente frio e irritante.

Esse lugar, chegavas lá tu e já lá estava eu há Quatro anos, saias de lá tu completando um ciclo de Três anos e acabava eu o meu de Sete. Quando lá chegaste já eu conhecia todos os corredores, salas e recantos escondidos, sabia quem fazia o que fazia e quando o fazia e onde o fazia, reconhecia o cheiro a mofo de todas as partículas de pó de todos os andares de todos os edifícios, quando tu lá chegaste já eu estaria na crise de meia idade, em jeito de comparação, e tu acabavas de nascer para um mundo com as suas regras próprias, que não diferiam assim tanto de outros tantos mundos semelhantes. Tal como descobriste facilmente que a maior influência naquele local era o teu modo de ser, as tuas roupas e o teu discurso, nada que fosse exclusivo ou novo na tua vida. Que tal um cheirinho de memórias? Talvez não seja adequado, talvez até sejam boas mas causem o mesmo ardor que as piores.

Talvez então recordar-te apenas uma memória algo nostálgica que me aconteceu no final de o Sexto ano dentro das muralhas daquele forte, final de um ano talvez que eu queira esquecer e não consiga, pois existe um certo peso para cada memória, e o pesa desta arrasta-me até ao fundo do oceano. Certa manhã no então final do Sexto ano, desloquei-me no sentido contrário à sala de aula, depois de te ter deixado lá, e encontrei então todo o conjunto de pessoas com quem partilhávamos uma grande parte do dia, a fazerem a sua deslocação natural para a sala, mas numa ordem pouco usual, sendo que passaram por mim, todos e apenas à tua excepção em pares. Sim pares, todos eles formavam pares e passaram por mim ao longo de um corredor, quando cheguei ao fim deste, passou por mim o par final, digamos que foi um evento esmagador e singelo, digo-te isto apenas porque achei na altura fantástica a harmonia não intencional que os nossos então colegas me proporcionaram.

Sabes perfeitamente as situações que vivi, as que viste e as que não viste, mas o que não sabes é que as cores daquele nosso mundo naquela altura já há muito tinham deixado de existir, já nem a preto branco eu via aquele local, não tinha cores, era desprovido de emoções novas e de talentos diferentes.

Foi tudo demasiado parecido durante Sete anos, ou melhor, tudo de bom foi repetido demasiadas vezes ao longo desses Sete anos, desse local não guardo qualquer sentimento de saudade. Sinto sim uma saudade de certas e muito determinadas pessoas, numa lista muito restrita.

Esta carta, este texto, é especialmente para ti pois viveste comigo esse mundo.

Layout

Se estão a ler este post, é porque já repararam no novo layout do blog.

Necessitava de mais espaço horizontal e umas modificações para o tornarem mais simples. Continua a ser texto à esquerda e extras à direita mas parece-me tudo muito mais limpo. É certo que um texto parece maior na horizontal, pelo simples facto que em comparação a um texto vertical, podemos ver a maioria desse mesmo texto na mesma página, enquanto que na vertical só vemos um parte até fazer-mos o scroll down, garanto-vos que é tudo psicológico, hehe.

Em relação a esses mesmos extras deverei tirar o photolog Flickr pois já não consigo aceder ao mesmo há cerca de Dois meses, o que se explica pela perda da password e a não resposta da Yahoo aos meus emails. Terei de recorrer a outro tipo de blog fotográfico para expor trabalhos.

Uma outra referência é que tenho tido uma certa atenção a uma noticia que saiu no ElPaís, que alertou para o facto que em Espanha morre Um ciclista em cada Quatro dias (média), e porque ao mesmo tempo o meu irmão mais novo se recusa usar um capacete, por motivos de provável estética, adolescentes enfim. Por exemplo, ontem na velha volta a Portugal em bicicleta caíram Cinco ou Seis ciclistas, se os profissionais caem porque se acha um adolescente capaz de manter o equilíbrio Cem por cento do tempo? Portanto, usem capacete se faz favor.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Requiem


Viajava distraído no comboio das sete da manhã, à minha direita o mar, azul baço devido à fraca iluminação, à esquerda a sequência dos subúrbios a começar com os seus distúrbios matinais, a força impelativa da inércia deixava-me descuidado de um fenómeno pouco comum.

Avançávamos para o centro da cidade à medida que o tempo passava o sol se levantava, mas, estava frio, cada vez mais frio, irritantemente frio, como o fio do rio a atravessar a espinha dorsal e a conquistar o pedestal do circulo polar árctico e antárctico.

Do pressuposto que o avançar das horas aqueceria o ambiente fui apanhado desprevenido pela corrente cada vez mais fria que me desfazia, o comboio certamente tinha levantado voo após a terceira paragem, de certo já não estaria no solo a conduzir-nos ao nosso monótono destino, estava sim a voar até Apolo, e atravessava a troposfera a uma velocidade pouco usual, comprovava não a inclinação da carruagem, não essa nem a sentia com tanto frio, comprovava o termómetro do comboio que espreitei, menos quinze graus centígrados, Porquê? Mas mais importante, Como? Mas ninguém diz nada, o silêncio há muito que nos havia congelou as cordas vocais, precioso e vulnerável instrumento humano, menos dezassete graus, não vejo bem e ganha tudo um contorno azulado, brilhante, não baço como a interior cor do mar aborrecido. Frio, frio, frio, cada vez mais gelado, menos dezanove, não entendo o que se passa, onde estou, ainda não me levantei de certo! O que estava eu a fazer aqui de qualquer maneira? Onde queria ir quando não tinha nada para fazer hoje? Não, não posso ter acordado, é impossível, alguém que me acorde, por favor que isto é insuportável, menos vinte e um graus, acho que o meu sangue já não corre nas veias, parece-me que vamos chegar à estratosfera, a esta velocidade poderíamos estar bem longe deste inferno gelado, sítio terrível, menos vinte e três graus, mais frio, ainda mais como se fosse possível.

Frio, Como um rio de inverno. Menos Vinte e Cinco Graus Centígrados, Menos Cinquenta e Cinco anos vividos do planeado, Trezentos e Cinquenta Mil Milhões de palavras por dizer, E acabo neste icebergue durante o verão, O que aconteceu mesmo?

De repente sinto calor, calor verdadeiro? Ou o frio já é tanto que me queima o corpo? Não, é mesmo calor, calor humano, estou confuso a minha visão entorpecida, acho que não tenho os pés no chão, mas estou a ser deslocado, por alguém, o som de que há algo de errado bate-me constantemente para que acorde e perceba o que se passa, mas depois de tanto frio só quero abraçar este momento de alegria invisível, oh, deixa-me em paz, deixa-me dormir, não me acertes na cabeça com esses sons horríveis. Já chega, não me queres deixar então vou ver o que queres, quando não os vences junta-te a eles? Fiz um esforço invulgar para desentorpecer a visão, e já está! Vermelho, cinzento, mas principalmente vermelho, vejo vermelho por todo o lado, vejo os meus braços estendidos sobre as costas de alguém, devo estar aos seus ombros, vejo um rasto vermelho por de baixo dos passos serenos mas convictos do meu portador, algo de terrível se passou, o barulho irritante que ouvi são na realidade gritos horríveis de socorro, a carruagem perdeu o seu gosto monótono e afunilado, agora está completamente imprevisível, de várias tonalidades em que se destaca o vermelho a brilhar sobre os estilhaços de vidro do compartimento, o odor transmite morte a todos os cantos, agora já não quero aquele calor, que me está a tirar o folgo, que torna difícil respirar em condições humanas, daquelas por exemplo de um campo de rosas, daquelas condições que esta carruagem já não apresenta.

Mudei de mãos, ou braços, como queiram, vi de relance a cara daquele que me salvou, ele estava vestido devidamente para aquela cerimónia de morte, perfeito para aquele Requiem, de vermelho saltou lá para dentro para salvar outro, digno dos mais aclamados heróis.

sábado, 11 de julho de 2009

Falha da democracia

A procura de um sistema totalitário é a procura de ditadura.

Quem opta por estas "soluções", opta por não puder optar, opta apenas para obedecer, para não ter de pensar, seguindo apenas as ordens de um líder de estado com discursos populistas, opta por uma escravidão física e intelectual.

A falha da democracia é dar oportunidade a sistemas não democráticos.