terça-feira, 31 de março de 2009

Curso de água

Dez da manhã, estou a inalar os gases que me são enviados directamente dos escapes dos carros. Estou a sair de casa portanto isto é apenas uma situação natural, tenho um lugar privilegiado para todo este espectáculo de cores cinzentas, hehe.

Mas okay, hoje estar levantado às Dez da manhã tem um propósito além daquele da vida rotineira, hoje estar aqui neste local e a esta hora significa que vou fugir pelas portas da traseira, vou sair a meio do espectáculo e vou concentrar os meus horizontes noutros interesses. Hoje vou ver um espectáculo de cores, em vez deste a preto e branco permanente.

Por volta das Onze encontrei um pelotão de pessoas que ficaram presas na porta de saída, afinal não era só eu que estava a achar o espectáculo desagradável, tic tac, quero sair, saiam da frente!
Enfim, já deixei o velho teatro para trás, agora é apenas um percurso que me levará a algo um pouco mais vitalicio. Bem de qualquer maneira já estou a chegar, começo a fitar planícies verdejantes, prados errigados, harmonia entre a natureza e as cores, menos cinzento esbatido e muito mais verde, amarelo, azul, branco, vermelho, entre outras cores que lá se vão despoletando na minha retina. Um vaca, Duas vacas, Três Vacas e Quarenta galinhas, Trinta e Três ovelhas e uns quantos porcos...Bem nem por isso, não contei os animais de quinta que estou a ver, mas são bastantes, se disser Cem estou tão correcto como Trezentos e Trinta e Três, porque de certo serão mais, logo esses números também se adequam. Os únicos gases por aqui disponíveis são aqueles que nos são oferecidos pela mãe natureza e as suas belas plantas.

O próprio tempo passa de modo diferente por aqui, ou melhor, passa de modo igual mas aparente ter outro peso, quando miro o relógio no velho teatro e vejo que está a bater as Três da tarde sinto que já é tarde e que estou quase a jantar, mas aqui quando vi o relógio bater as Três senti uma tranquilidade imensa pelo tempo disponível que tinha daí adiante.
Onze da Noite, tripé montado, câmara no respectivo poleiro e Uma, Duas, Três fotos, tranquilissimo e ninguém passou.

Bem agora posso fazer qualquer coisa que me apetece, estou indeciso entre ir para o telhado tirar fotos, ir para a sala ver um filme ou simplesmente ir para a rua e encontrar pessoas, sim porque por estas bandas qualquer um que nos veja saúda-nos, nem que seja por curiosidade coscuvilheira, mas torna as relações bem mais pessoais.

Assim é, vida minha aqui estou, por agora.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Uma tarde




Um leque, acetona, uma garrafa de água,
três cafés starbucks, a Rita, a Cecília e a Amélia,
três pares de óculos uns graduados e os outros dois escuros, uma escova para o cabelo, um colar exótico, verniz, soro para os olhos,
um telemóvel meio estragado mas funcional, uma licença de condução em que se lê "Vargas", uma carteira "hippy", uma chave de carro e aparenta dizer-nos "Matiz", fumar mata diz o maço de cigarros,
uma caneta da zon, uma caixa de lentes, Gosto de Ti Todos os Dias, um creme labial com aroma e sabor tropical,
numa mesa da coffee shop.
Nove amizades jovens, um museu, verde e azul juntos pelo cinzento do cimento, sol, calor numa tarde agradável, um porto de abrigo e estatuetas históricas... Uma tarde.

terça-feira, 17 de março de 2009

A Observar a População III


Ao observar a população, desta vez, através da televisão durante o programa Opinião Pública da SIC notícias, reparei na vasta ignorância e incoerência da maioria das pessoas que participaram na discussão.

Antes de mais e para que não haja qualquer confusão, o tema da discussão era a étnia cigana, e o que pensava então a população deste país. Começou por abrir com a discussão entre a pivô e um homem que participou em prol dos direitos de igualdade entre os portugueses e as pessoas de étnia cigana. Depois de uma troca de ideias formal e básica abriram o tópico de discussão em três frentes, uma, através rede telefónica, outra através de uma sondagem por sms e uma final através de mensagens enviadas igualmente por sms.

Ora bem, em primeira instância os comentários estavam calmos e acessíveis, até que a bola de neve se foi formando e aí o tom de ligeireza se dissipou, entre parasitas, usaram-se palavras como vermes e ladrões. No "chat" por sms falava-se à "toa", já que o anonimato protege qualquer um de sofrer consequências, e então conseguia ler-se de tudo e mais algo. Infelizmente facilmente conclui que a taxa de xenofobia neste país é assustadoramente grande, eu achava que era mais ou menos controlada, mas a discriminação demonstrada hoje pelo povo português só mostra que de facto este país encontra-se cerca de 300 anos atrás dos países civilizados.

Okay, só para finalizar queria dar o último toque e mostrar que a discriminação é aliada da incoerência, na sondagem que tinha referido antes a pergunta era a seguinte:

"Acha que a populção cigana é discriminada?"
16% - Sim
84% - Não


Com tudo isto referido, nem se quer dei a minha opinião à cerca do tópico, e porquê? Porque apesar de já ter convivido com pessoas de étnia cigana no passado, não creio correcto tratar-se de um assunto delicado como este com tanta abertura e facilidade, pois vai abrir feridas e contagiar as florezinhas de estufas com meia dúzia de palavras acessiveis, lavagem cerebral é gratuita e fácil, normalmente nem demora muito tempo.

Com isto deixem-me só concluir com um ditadto hiper-mega-cliché mas apropriado:

Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao vizinho

quarta-feira, 11 de março de 2009

A Magia de Outra Época


Nascido no final da década de Oitenta, a única maneira de viver qualquer sentimento e envolvimento de uma época anterior é deixar-me levar pela magia cultural deixada para trás, neste caso vou apenas abordar a temática da música, de uma forma breve e equilibrada (?).

Hoje por acaso até está um dia bestial em que o que se passou acaba por ser uma sequência natural dentro de uma teoria do caos deixada na desordem.

Não sei se já me teria passado pela cabeça isto, mas de facto ouvir música que é mais velha do que eu, aos bons e largos anos, transporta uma situação já agradável devido ao sentido de dever cumprido e a um dia fabuloso algo místico, que, transcende o meu racional. Ora para ser um pouco mais específico, pois estou a encher chouriços, e para manter-me fiel à palavra que dei de ser breve e equilibrado (?), seguia a caminho de casa, uma das duas em que habito, e sentindo-me à vontade comigo mesmo e com todo o ambiente em meu redor ia ouvindo música, como já é um hábito no meu mp4 (um mimo de objecto), e de repente vi de relance quem não poderia de algum modo ver, pois o dia estava a ser demasiado bom, vi um policia sinaleiro em roupa interior com o sinal de Stop na mão!
E como se o destino não fosse estranho o suficiente no meu mp4 começou a tocar Back in the U.S.S.R., pelos fantásticos Beatles, e no meio de isto tudo acho que senti exactamente o que sentiriam as pessoas daquela época enquanto os seus vinil tocavam esta mesma música, por estes mesmos autores. É claro que sendo isto só uma suposição, posso afirmar sem qualquer margem para dúvida que hoje senti-me diferente, senti uma euforia diferente ao viver aquela situação, se por acaso tivesse passado uma música melancólica, talvez tivesse sentido pena do tal senhor, em roupa interior.

sábado, 7 de março de 2009

Maus ventos

Sopram os ventos da mudança... Não por acaso só sopram os ventos do anticiclone dos Açores, tal como é habitual por estes lados peninsulares.

Então veja-se bem que levantando-me às Seis e Trinta da madrugada, planeando a minha saída para volta das Sete, espero no mínimo uma viagem para a capital tranquila, a ouvir a minha música (salvo seja, não me pertence como é óbvio), e a pensar o que vou fazer durante o dia. O mais normal seria acordar com a brisa fria matinal passados já uns Vinte minutos depois das Sete, já na rua. Não me concederam essa graça, mal pus o meu pé (deve ter sido o esquerdo com certeza), fora de casa levei com uma rabanada de vento assustadora e um barulho ensurdecedor, pior que o meu despertador (que raiva..), e bem mais alto que a música emprestada pelos artistas britânicos, Pink Floyd. Aquele vento é pronuncio de uma só coisa, e essa coisa não é de todo boa.

Sete e Seis da manhã, rua de habitações bem remuneradas vazia, pois aquela hora são poucos os que acordam, normalmente é uma travessia pacífica, mas hoje tenho que me desviar dos caixotes do lixo que vão rebolando pela estrada fora, da esquerda da via para a direita, da direita para a esquerda, e da lá do fundo na minha direcção. Fez-me lembrar aquele desporto de atletismo, a corrida de obstáculos. Pelo menos existe uma única e pequena vantagem num dia tão péssimo, só uma pequenina coisa que suaviza a minha serenidade, aquela falta de um barulho muito familiar que inunda a primavera, um zumbido que não passa despercebido de todo pois simboliza uma vida diferente, uma que se estende da extremidade da asa esquerda, à extremidade da asa direita, dos seus olhos esbugalhados ao ferrão (quase) venenoso, uma pequena mente a que denominamos de abelha. Odeio-as desde aquela ocasião em que por zonas fronteiriças com o reino espanhol, lá por onde habita um templo romano, eu e o meu irmão fomos atacados por um enxame delas, não houve qualquer dano físico como uma ferroada, contudo existiu um dano psicológico provocado por uma parvalhona de uma abelha que me entrou na orelha e zumbiu que nem uma louca durante aqueles 3 segundos traumatizantes. Bem posto esta vantagem em evidência vou saltar para o último capitulo desta história enfastiante.

Chegava eu há última paragem do metro, já em Lisboa, depois de uma viagem mais ou menos calma, pois dentro dos transportes é quase igual se chove ou não, especialmente no metro como é óbvio. Claro que existem aqueles dias por volta de Outubro onde chove tanto que as estações do metro, por falta de evacuação decente, ficam alagadas e então têm que ser encerradas. Bem posto isto o que encontrei após a minha viagem de metro não foi só o vento, foi o vento mas também a chuva, como se não bastasse a minha lacrimação natural devido às fortes rajadas direitinhas aos meus olhos sensíveis, agora também tinha aquela provocada pelas chuvas intensas. Saí para a direita, zona sem cobertura, uns bons Cinquenta metros, talvez mais, mirei os prédios com arcadas e pensei que encontraria aí a protecção necessária à tranquilidade do corpo, não, enganei-me, sendo que a disposição da rua a partir dos prédios era diferente, as colunas de ar também se deslocavam em direcções diferentes (e aproveitando o plural na palavra "direcções"), apanhava com o vento carregado daquele líquido celestial tanto pelo lado descoberto da arcada como pela frente. O quilómetro que me faltava para chegar ao meu destino não foi mais fácil que o quilómetro que necessitei de percorrer até à primeira estação. Resultado, uma molha descomunal e um dia muito mal começado.

E referi isto tudo porquê ? Porque me apeteceu que alguém, alem de mim, gastasse o seu tempo a ler esta extensão de texto.