
Mãos húmida e arrepios na espinha, dez mg de um medicamento calmante que teima em nada fazer.
Tonturas e vertigens, espera, estás em solo e não numa falésia sobre a costa alentejana.
Espera pelo momento certo para chorares, que agora não o é. O teu rosto suave está rígido e mostra ansiedade, não, o mundo não te vai aceitar assim, mostra o teu sorriso de sempre, aquele
que multidões vai conquistar. Não, esquece essa pastilha que mascas com demasiada força, arranja em ti a força para superar este momento, afasta o cabelo louro e liso que usas nestas ocasiões da cara. Esquece as câmaras e pensa na causa que defendeste e que até aqui te trouxe. Esquece os tremores das pernas, o frio na barriga, essas borboletas incessantes, lembra-te da calma do mar na sua eterna viagem terrestre, ou talvez necessites de uma lembrança mais brusca e violenta desse mesmo mar para apaziguar o teu espírito inseguro. Esquece que estás vestida à gala, que o teu vestido é vermelho e que os teus sapatos são caros demais para o que vais dizer.
Descruza as pernas e enfrenta essa multidão, queres que te empurre ou quê ? Não estou ai, nem perto se quer, apenas te observo de longe, muito longe. Avança lá, estás a espera do quê. Pronto já estás em frente ao mundo, agora resta saber uma coisa, será o teu único defeito, aquela perturbação emocional, aquela falta de coragem que te impedirá de conquistar o mundo? Ou elevar-te-ás, ultrapassando os teus limites, e levarás o mundo a rescrever a história? A minha acaba aqui com o teu discurso, que dirás, como o dirás.
Vou esperar, entretanto vou calmamente abrir a chaveta de conversação, com dois pontos, um parágrafo e um conjunto de aspas. Fico à espera, até este ponto sei que a minha história vai bater certo, sabendo que és capaz de te tornares numa das pessoas mais influentes do século XXI, sabendo que independentemente das cores que vistas serás influente e preponderante, sei isto pela admiração que em tempos nutri por ti, o desejo e o amor que me fizeram observar cada gesto sublime e/ou catastrófico, sei aquilo que serás capaz se largares o teu único defeito, aquele que nos desuniu, a tua falta de coragem, e espero que te encontre um dia como aliada e não inimiga, pois custar-me-á destruir-te a partir da tua fraqueza.
... e então disse:
"...